terça-feira, 14 de agosto de 2007

Voltei

II Parte

Chegado à sua nova moradia espiritual, irmão Jacob, recordando suas actividades doutrinárias, “pretendia rogar trabalho”, aproveitando as suas possibilidades na "acção útil". Ignorava se a sua “pobre tarefa no mundo havia sido aprovada pelos poderes superiores. E no íntimo não desconhecia os seus próprios erros”.

Perguntando ao irmão Andrade pelo julgamento de seus actos, este respondeu que “a morte não nos conduz a tribunais vulgares e sim à própria consciência” e esclareceu que, “não obstante entregue ao seu próprio julgamento, um amigo de mais alto viria ajudá-lo a recompor o sentimento e o raciocínio”.

Irmão Jacob ficou intrigado por não saber o nome do benfeitor anunciado...

Entretanto, irmão Jacob ia reparando no halo de luz que envolvia sua filha, Marta, bem como os traços brilhantes que cercavam Andrade.
E estabelecia comparações consigo, “num demorado auto-exame”.
E reparava que “seu corpo espiritual jazia tão obscuro, quanto o veículo denso de carne”.

Mais tarde, em instituição espírita, nos serviços de doutrinação, “reparou, com mágoa, a diferença que existia entre ele e os abençoados companheiros que o haviam trazido”.
Enquanto que esses companheiros “não eram visíveis aos irmãos ignorantes e perturbados, não obstante as irradiações brilhantes que lhes marcavam a individualidade”, a presença dele, Jacob, era notada.

Certa entidade reconheceu-o e gritou: “aquele ali não é Jacob?”. E olhando-o de alto a baixo, acentuou: “Que é da luz dele?”.
Jacob, sentindo a “opacidade da sua organização espiritual e envergonhado com o incidente, recolhe-se ao silêncio e à inacção...”.

E medita:

“Quantas vezes invocamos a luz nos círculos da fé religiosa! Despreocupados, aconselhamos amigos que a procurem e, em muitas ocasiões, inadvertidamente, receitamo-la para os irmãos que se encontram nas sombras. Através de conversações ociosas, indicamos criaturas que não a possuem e, sempre que tomamos a palavra em público, suplicamo-la (a luz) em altos brados”.

Em sua situação de "entidade parda", irmão Jacob reflecte:
“frequentemente olvidamos a palavra do Senhor que nos recomendou aproveitar as oportunidades da experiência humana, na iluminação de nós mesmos, através do devotamento ao próximo”.

Mas, irmão Jacob não havia devotado toda a sua vida à doutrina espírita e ao movimento espírita? Porquê, então, a sua ausência de luz? É ele próprio que responde:

“O problema avultava em minhas cogitações (...) Eu não providenciara luz para mim mesmo. Conduzira muitos desencarnados à fonte sublime das claridades evangélicas, mas esquecera as próprias necessidades. Doutrinara muita gente, ou pretendia haver doutrinado e, em todo o meu movimento verbal da pregação cristã, salientara o imperativo da luz para os corações humanos. Contudo, agora, que participava de uma sociedade espiritual, reconhecia a opacidade da minha alma. Mantinha-se-me o perispírito no mesmo aspecto em que se caracterizava na experiência física”.

Estas reflexões de irmão Jacob, decorrentes das constatações que o haviam seguido logo desde o início da jornada além-túmulo, fazem emergir de dentro de si a humildade para rogar:
“Oh! Senhor, porque não fazemos bastante silêncio, dentro de nós, para ouvir-te os ensinos, enquanto nos demoramos nos atritos do mundo?”

Da expectativa e da esperança, este irmão dedicado à actividade doutrinária no campo espírita é conduzido pelos próprios meios, à interrogação e constatação da falta de luz em si próprio, lamentando não ter feito suficiente silêncio dentro de si... Pensando inicialmente no julgamento de seus actos, como se em vulgares tribunais terrenos, é informado que “a morte (...) conduz (...) à própria consciência”...
(continua)
Mário

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