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quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O Mito do corpo e a consequente frustração




Meditando em Narciso e na sua auto-contemplação, levada ao extremo e à consequente aniquilação do ser, constatamos que nos tempos actuais a maioria da sociedade se dedica ao cultivo do corpo quer no tocante à exacerbação da beleza física, quer no contínuo tratamento de temas relacionados com a sexualidade e seus desvios, entrando demasiadas vezes por caminhos onde campeiam as perversões de todo o tipo.
Deste modo, carentes de valores familiares e duma sólida estrutura da personalidade, muitos seres humanos passam a vida em busca desenfreada duma felicidade frágil que parece escapar-lhes constantemente das mãos.
Apesar de nunca reflectirem sobre a vida, as razões da existência e o seu fatal término, após o normal processo de envelhecimento celular, com o desfazer das ilusões que construíram, enquanto plenos de energias que desperdiçaram, mais tarde ou mais cedo terão de enfrentar esse acontecimento, comum a todos os seres vivos.

Sem o corpo material, fruto de todas as suas preocupações, enquanto vivos, despertam no Mundo Espiritual, mais confusos do que partiram e vazios de verdadeiras aquisições emocionais que lhes sirvam de suporte a uma vida totalmente nova e desconhecida.

Desnorteados, sofrem ainda com a necessidade de manutenção das dependências a que se dedicaram, quer sejam no domínio da sexualidade, das drogas, da vaidade e da auto-adulação, ou da ambição desmedida.

Só o tempo, a ajuda dos trabalhadores da espiritualidade e a benção duma nova reencarnação poderão contribuir para novas oportunidades de reajuste do psiquismo e da conquista de novos valores para o espírito, pela superação das provas e expiações que todos enfrentamos ao longo da vida no corpo físico.

Nesta sociedade em que vivemos, todos somos em maior ou menor grau como Narciso, orgulhosos do nosso ego, doentes a necessitarmos de médico e do remédio certo para as doenças da Alma. Resta-nos identificá-las e tentar curá-las ou, pelo menos aliviar esse sofrimento, buscando em Jesus, o Médico Maior, o auxílio necessário.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo existe uma bela passagem em que Jesus e os seus discípulos ceiam com publicanos e pecadores.
Em dado momento um fariseu presente questiona Jesus sobre esse facto. E Este lhe responde: Os sãos não precisam de médicos, mas sim os doentes.
Lembremos que os publicanos eram uma espécie de fiscais, nomeados pelos romanos para a cobrança de impostos, pelo que eram odiados pela população. Os pecadores eram considerados todos aqueles que não cumpriam com os deveres e preceitos impostos pelos fariseus, estes últimos fanáticos religiosos, cultivando o formalismo dos rituais, em vez de respeitarem e de fazerem respeitar os valores recebidos de Moisés e dos Dez Mandamentos.
Se a maioria dos publicanos e pecadores preferiam gozar de todas as regalias que lhes traziam o conforto material e os abusos de toda a ordem, pessoas havia dentre eles que tinham curiosidade em escutar o Mestre e em beber-lhe os ensinamentos, embora as suas vidas não se pautassem pela virtude.
É a esses que Jesus chama de doentes, à procura da cura espiritual. Todos nós, em resumo.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

O Mito de NARCISO

Caravaggio

O termo narcisismo encontra as suas origens na mitologia grega. Narciso era filho da ninfa Liríope e do deus fluvial Cefiso.


Um dia, Narciso viu a sua imagem reflectida na superfície duma fonte e apaixonou-se perdidamente pela beleza que o caracterizava. Esquecido de tudo o que o rodeava, ficou dias e dias contemplando-se a si próprio, até à autodestruição total, pela fome, sede e solidão experimentadas.


Mais tarde, as irmãs procuraram o corpo para realizarem as cerimónias fúnebres, mas em seu lugar, encontraram, junto da fonte, uma delicada flor amarela, cujo centro é rodeado por pétalas brancas parecendo folhas.


Em Psicologia, o mito de Narciso simboliza a vaidade, a auto-admiração e o excesso de fantasia, reprovados pela ética e pelo próprio inconsciente individual. Daí o final de Narciso que o conduz à autodestruição, fazendo lembrar a insatisfação generalizada que caracteriza a sociedade em que vivemos e que, embora mergulhada nos prazeres mundanos, em processo de fuga, dificilmente afasta a solidão e o vazio que invade os corações.

Como contraponto, lembrei-me duma história que li (já não sei onde) e que me marcou pela simplicidade do gesto e pelo simbolismo do acto espontâneo de doação.
Conta-se que uma senhora viajava diariamente de autocarro e, durante o percurso, ia atirando pela janela algo demasiado pequeno aos olhos dos demais. Um senhor que a observou algumas vezes, cheio de curiosidade, resolveu sentar-se ao seu lado e interrogá-la.


- É pela memória do meu filho; são pequenas sementes de flores que lanço à terra. – explicou a senhora.


- Mas aqui só existe mato selvagem!!!


- Não importa se algumas caiem na estrada, outras se perdem entre as pedras. As que caírem nesse mato um dia o modificarão. Eu faço a minha parte.

O senhor silenciou e esqueceu o assunto.


Tempos mais tarde, voltou a fazer o mesmo percurso de autocarro e lembrou-se da senhora com quem conversara e que atirava sementes de flores pela janela. Mas, por mais que olhasse em redor, não conseguiu avistá-la. Perguntou por ela ao motorista e foi informado de que a senhora havia falecido. No decurso da viagem foi reparando que nalgumas partes do que antes era apenas mato e terra abandonada, havia pequenas clareiras de flores coloridas e que embelezavam a paisagem, antigamente monótona e sem interesse.


Nos dias que se seguiram o senhor apanhou o autocarro com um saco de sementes na mão e foi lançando sementes pela janela.

Façamos também cada um de nós a nossa parte.