quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Espíritos assustadores


Era colaborador num Centro Espírita. Sensitivo. Mas tinha um tique muito peculiar. Sempre que sentia alguma aproximação espiritual, dava um salto, como se fora impulsionado por uma mola, estendia os braços com as mãos espalmadas para diante e esbugalhava os olhos para um ponto distante no infinito.

Quem não conhecesse este seu modo de actuar, sendo apanhado desprevenido, ficava no mínimo surpreendido, para não dizer assustado.

Muitas foram as vezes que os seus companheiros o advertiram, sem sucesso, para se controlar. O hábito de saltar, estender os braços com as mãos espalmadas e olhos arregalados, como se quisesse parar algo invisível, continuou. Os trabalhadores do Centro desistiram de o fazer mudar de comportamento.

As reuniões públicas nesse Centro começavam, invariavelmente, à mesma hora, em determinado dia da semana. A sala era relativamente pequena. Após estarem acomodados os participantes, pontualmente e antes da oração inicial, a porta era encerrada e ninguém mais entrava.

Naquele dia, alguém que não conhecia as regras da casa, chegou atrasado. Encontrando a porta da rua fechada, bateu. A ordem era para não abrir. Mas, perante a insistência e o transtorno que estava causando, os responsáveis da Casa Espírita resolveram, excepcionalmente, abrir a porta ao visitante inoportuno.

O confrade, que vimos citando, ofereceu-se para o fazer.

O visitante era, afinal, uma senhora. Vinha ao Centro pela primeira vez. Mas deveria vir acompanhada por entidades espirituais, a julgar pela habitual reacção desse irmão que, assim que a encarou, deu um salto, colocou os braços esticados com as palmas das mãos abertas e esbugalhou os olhos.

A senhora, que desconhecia totalmente o que era o Espiritismo, fugiu, de imediato, esbaforida, rua abaixo.

Sendo o Espiritismo, à época (anos 80 do século passado), confundido com bruxedo, feitiçaria, adivinhação e outras actividades mais ou menos ocultas e misteriosas, próprias de gente que não funcionaria muito bem da cabeça, não é difícil presumir o que teria, então, passado pela mente dessa senhora.

Podemos imaginar as conversas havidas, posteriormente, com as suas vizinhas e amigas e os relatos coloridos da ocorrência à porta do Centro Espírita.

De facto, na povoação, começou a correr o rumor de que naquela casa (Centro Espírita) deveriam existir espíritos assustadores.


Moral da história:

1. Todo o médium deverá aprender a controlar-se e estudar a Doutrina Espírita. As reuniões de educação mediúnica têm este objectivo.

2. A grande maioria das pessoas que procura o Centro Espírita, fá-lo em busca de auxílio. Desconhecem o que é a Doutrina Espírita. Desconhecem quais são as finalidades de um Centro Espírita, possuindo, muitas vezes, ideias preconceituosas em relação a tudo quanto se relacione com o intercâmbio entre os dois planos – físico e espiritual.

Cabe, a quem está informado, esclarecer, estabelecendo a distinção clara entre mediunismo e espiritismo, informando que a mediunidade é, em si mesma, neutra e que existem médiuns que são espíritas, como também aqueles que o não são. E explicar, de forma simples e clara, em que consiste a Doutrina Espírita ou Espiritismo.



Retirado do livro de Eduardo Guerreiro “Histórias Verídicas com Pessoas e Espíritos”, Chiado Editora

domingo, 20 de novembro de 2016

Um católico cumpridor

No dia 16 de julho de 2007 manifestou-se um amigo sofredor que enquanto encarnado foi um católico cumpridor de todos os rituais: “Sempre fui virtuoso. Ia à missa, rezava, comungava, confessava os meus pecados ao senhor padre. É para isso que ele lá está. E Deus perdoava-me.” Acabou sendo encaminhado pelo padre em quem ele confiava.
Em seguida manifesta-se o Espírito Orientador dos trabalhos que meditou sobre a importância da vida física e, entre outras coisas disse: “Muitos se refugiam em conventos, tentando atingi-Lo, dedicando-Lhe toda a sua vida terrena, esquecendo que ela é tão limitada que muitas vidas serão necessárias e que por muito que Nele pensemos temos que prová-lo no mundo em que vivemos, pois é na experiência, é nas provas que o mundo nos aporta, nos contactos com aqueles a quem ferimos noutras vidas, que o nosso entendimento se alarga e que o nosso coração é testado mais uma vez, sendo convidado ao perdão, ao esquecimento e finalmente ao amor dos adversários.”

(...)
Doutrinador: Diz, meu amigo.
Espírito: O Senhor padre é que tem que dizer.
Doutrinador: Eu não sou padre, amigo.
Espírito: Então eu não estou na missa?
Doutrinador: Não. Estamos num local onde fazemos oração, onde oramos a Jesus, a Deus Nosso Pai e lemos lições do Evangelho. Não é necessário estar na missa.
Espírito: Ah, mas eu sempre ouvi na missa.
Doutrinador: Mas agora ouves aqui connosco. É um local particular onde nós nos reunimos, oramos, pedimos ajuda a Deus para irmãos que estejam em sofrimento, já no mundo espiritual, como é o teu caso...
Espírito: Eu fui virtuoso.
Doutrinador: Graças a Deus, meu amigo.
Espírito: Graças a Deus. Não faltava a uma missa.
Doutrinador: Bem... e eras bom para com os teus semelhantes?
Espírito: Ninguém é perfeito.
Doutrinador: Praticavas a Caridade?
Espírito: O que é isso?
Doutrinador: A Caridade é ajudar o próximo.
Espírito: Ajudava a minha família. O próximo?! O que é o próximo? Ajudava a minha família. Sempre trabalhei para a minha família.
Doutrinador: O próximo são os necessitados...
Espírito: Ah, isso ninguém consegue salvar o mundo.
Doutrinador: Não se trata de salvar o mundo. Mas se visses alguém em dificuldades...
Espírito: Eu dava a minha contribuição na igreja.
Doutrinador: Mas nunca encontraste alguém com dificuldades que se aproximasse de ti?
Espírito: Pois por haver muita gente é que não podemos ajudar a todos.
Doutrinador: Sim, mas quando podias e sempre que podias criavas à tua volta um ambiente alegre, optimista?
Espírito: Que perguntas tão difíceis.
Doutrinador: No teu trabalho, por exemplo?
Espírito: Sempre fui virtuoso. Ia à missa, rezava, comungava, confessava os meus pecados ao senhor padre. É para isso que ele lá está. E Deus perdoava-me.
Doutrinador: Cumprias todas essas obrigações para com a Igreja Católica, não é verdade?
Espírito: E Deus perdoava-me.
Doutrinador: Também os fariseus cumpriam as obrigações deles...
Espírito: Eu não sou fariseu. Calma aí! Calma aí!
Doutrinador: Eu não estava a acusar.
Espírito: Tu não és padre mas acusas.
Doutrinador: Não estou nada a acusar.
Espírito: Não sei quem és.
Doutrinador: Sou um amigo. Sou teu amigo.
Espírito: Então vai lá vestir a batina para conversares assim comigo. Eu só aceito conselhos do padre. Esse é que me manda rezar não sei quantos ‘pai-nossos’ e não sei quantas ‘ave-marias’ e eu rezo. Mas isso é porque ele é padre. Tu, não.
Doutrinador: Resolveu-te alguma coisa na vida?
Espírito: Fiquei com a consciência mais tranquila.
Doutrinador: Diz-me uma coisa: o que é que tu fazias, se não é indiscrição. Qual era o teu trabalho?
Espírito: (Bocejos) Trabalhava com contas.
Doutrinador: Eras contabilista?
Espírito: Podes dizer isso.
Doutrinador: E eras empregado?
Espírito: Era e não era.
Doutrinador: Tinhas a tua própria casa de contabilidade?
Espírito: Não!
Doutrinador: Então eras empregado de alguém...
Espírito: E mandava noutros.
Doutrinador: E criavas bom ambiente no teu local de trabalho?
Espírito: Mas isto é algum inquérito? Já te disse que tu não és padre. Vais-me dar a comunhão a seguir?
Doutrinador: De modo algum. Aqui não se dá a comunhão.
Espírito: Devias dar porque já há muito tempo que não a tomo.
Doutrinador: Sabes... Há uma questão que é muito importante. Não são as obrigações que a Igreja Católica te exigia que fazem de ti uma pessoa melhor ou pior.
Espírito: Mas era cumpridor. Então não ganhamos o céu?
Doutrinador: Pois aí é que te enganas, querido amigo. Neste momento achas que estás no céu?
Espírito: Não era bem aquilo que eu esperava. Julgava que o céu era melhor que a Terra.
Doutrinador: Se calhar ainda te encontras na Terra.
Espírito: A bem dizer não. Ando por aqui. Ando por aqui perto.
Doutrinador: Aqui nesta cidade?
Espírito: Por onde calha. É bom porque não precisamos de automóvel. Já percebi como é que hei-de ir parar a um sítio. Não sei como é que vim aqui parar. Mas isto é porque ainda estou pouco treinado.
Doutrinador: Mas ainda bem que vieste aqui. Com a graça de Deus.
Espírito: Isso não sei. Tu és muito esquisito.
Doutrinador: Porque dizes isso?
Espírito: Porque tens fala de padre mas não és padre.
Doutrinador: Mas, ouve lá: é preciso estar vestido de batina para ser padre?
Espírito: Ah... o padre às vezes falava sem batina. Na igreja é que a gente se confessava.
Doutrinador: Nunca falaste com o padre fora da igreja?
Espírito: Mas não eram estas coisas. Ele não falava destas coisas. Está bem... às vezes pedia-se um conselho, mas pedia-se na missa. Eu ia todos os dias à missa, todos os dias falava, todos os dias ouvia falar... todos os dias não, uma vez por semana ia comungar e ouvia sermão.
Doutrinador: E gostavas do sermão...
Espírito: Lá gostar não gostava, não é, mas... pronto!
Doutrinador: Diz-me uma coisa, meu amigo: neste momento achas que te encontras bem?
Espírito: (Bocejos) Bem, não. Nunca estive bem.
Doutrinador: Provavelmente estás em sofrimento, não é verdade? Estás em sofrimento e necessitas, certamente, de te curar e de seres auxiliado.
Espírito: Ah, isso não dizia que não. Devo-me ter enganado no rumo.
Doutrinador: Ora bem: essa dor que tu sentes, esse mau estar que tu sentes, tudo isso, amigo, precisa de ser tratado.
Espírito: Ai, não queiras saber! Não queiras saber... Mas, afinal quem és tu?

(continua)

Extraído do livro "Falando com os Espíritos", de Eduardo Guerreiro  (não publicado ainda)




segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Uma excelente pessoa


Esta história foi contada por Divaldo Franco e reproduzida, algures, num jornal ou revista espírita.

Diz-nos ele, que no centro ao qual pertencia em Salvador da Bahia, no Brasil, resolveram em determinada altura fazer uma espécie de inquérito a antigos trabalhadores do Centro, já desencarnados, que se manifestavam em reuniões mediúnicas. O inquérito consistia, essencialmente, em duas perguntas: o que mais lhes tinha agradado e o que mais lhes tinha desgostado depois de terem chegado à Pátria Espiritual.

Um desses companheiros, por todos considerado uma excelente pessoa, enquanto na vida física, manifestou que o que mais o tinha alegrado ao chegar ao mundo espiritual foi ter reencontrado a sua alma gémea que já não via há séculos.

Contudo, disse ele, foi acometido de uma angústia inexplicável que, constantemente, o perseguia e não o deixava em paz. Queria saber a razão de ser dessa angústia, já que na última existência terrena tinha cumprido exemplarmente a missão a que se tinha proposto.

Dirigindo-se ao Dr. Bezerra de Menezes expôs-lhe a questão. Foi então que Bezerra o conduziu a um vale espiritual onde imensas entidades sofredoras gritavam e vociferavam, de forma tresloucada contra ele, emitindo vibrações de ódio e desejo de vingança, inconscientes da situação em que se encontravam.

Aqui estava a razão de ser de tanta angústia que acompanha sempre a consciência culpada, sendo que, no mundo espiritual, ela brota livremente, sem a bênção do esquecimento temporário e a protecção que o corpo físico confere a essas vibrações deletérias com que ele, agora, estava sendo atingido.

Bezerra explicou-lhe, então, a razão de ser da situação. É que ele, outrora, fora comandante de um exército e a fim de evitar que os inimigos o perseguissem, quando os apanhava, furava-lhes os olhos com um bidente, deixando-os a morrer lenta e dolorosamente.

O remédio para este nosso companheiro consistia em, numa primeira fase, trabalhar, com a permissão divina, pela reencarnação dessas entidades, possibilitando, dessa forma, a evolução das mesmas. Numa segunda fase, certamente, conquistar a amizade desses irmãos sofredores, enredados nas teias do ódio. Por outras palavras – transformar os antigos inimigos em amigos.

Este nosso irmão estava, como podemos perceber, empenhado em cumprir a primeira fase do projecto. Levasse o tempo que levasse. Mas, certamente, um projecto para séculos, contados em anos terrenos, já que para a espiritualidade o tempo não é visto como nós o encaramos.

Moral da história:
Só atingiremos a paz da consciência quando nos quitarmos com a Lei. Quantos erros! Quanto crimes! Quantas imperfeições carregamos! Mas uma coisa é certa – a reencarnação dar-nos-á, sempre, oportunidades renovadas para avançar, pois a Lei da Evolução é universal. E um dia alcançaremos a perfeição que todos nós almejamos.


Extraído do livro “Histórias Verídicas com Pessoas e Espíritos”, de Eduardo Guerreiro, Chiado Editora

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Auxílio providencial


Um grupo de pessoas de boa vontade que se reúna periodicamente, a hora aprazada, com o único objectivo de auxiliar entidades em sofrimento, pode crer que terá sempre a ajuda dos Bons Espíritos nessa tarefa caritativa, sem que para tal seja necessária a presença de médiuns ostensivos. A extensão desse auxílio estará de acordo com a composição do grupo no que respeita a Fé, dedicação, abnegação, espírito de sacrifício e disciplina. Os Amigos Espirituais avaliarão, segundo as condições oferecidas, o tipo de trabalho que poderá ser realizado. Muitas vezes, as entidades a serem auxiliadas são conduzidas aos componentes do grupo dias antes da concretização da reunião, estabelecendo-se, assim, um vínculo, em que o trabalhador encarnado sofre, em maior ou menor grau, as sensações desagradáveis, por vezes penosas, transmitidas pela(s) entidade(s) a ser(em) posteriormente auxiliada(s).

No dia 26 de abril de 2006, manifesta-se uma entidade em sofrimento que acompanhava um dos elementos do grupo. Havia sido a ele trazida ou por ele atraída com o objectivo de receber auxílio. A entidade confessa que “não queria sair de junto das pessoas”, desconhecendo que “estava a fazer-lhes mal”. Pensava que o que as pessoas sentiam coincidia com o que ela, igualmente, sentia, não se apercebendo que era ela mesma que lhes estava a transmitir as sensações deprimentes. Pela linguagem ingénua que usa, percebe-se que é católica. É auxiliada, tal como muitos outros Espíritos sofredores que se encontram presentes. No final, por indicação dos amigos espirituais, a nossa amiga A. (componente do grupo) é tratada espiritualmente, seguindo-se a comunicação do Orientador Espiritual da reunião.

Espírito - Não têm aí uma mezinha aqui para este lado? Aqui, dói-me tanto, aqui. Puxa-me aqui para o ombro. Aqui. Ai. O braço também. Ai.
Doutrinador - Há muito tempo que andas assim em sofrimento?
Espírito - Há muito tempo. Até os calcanhares me doem. Dói-me o meu corpinho todo.
Doutrinador - Precisas de médico, não é verdade? Então permite-me que eu peça a Jesus, que é o médico das almas...
Espírito - Então tu falas com Jesus?
Doutrinador - Todos podemos falar com Jesus. E eu falo com Jesus, sim.
Espírito - Mas Ele vem aqui?...
Doutrinador - Vêm mensageiros seus. Presta atenção.
Espírito - Ai, isto é um lugar muito importante. Ainda bem que eu vim aqui.
Doutrinador - Então eu vou pedir a Jesus.
 [O doutrinador ora a Jesus, Nosso Mestre, rogando auxílio para esta nossa querida irmã e amiga.].
Espírito - Sinto cada ferroada! Eu não sei onde é que não me dói. Umas vezes é nos pés, outras nas mãos...
Espírito - Ai! Vêm ali duas alminhas. Ai!!! Duas alminhas com tanta Luz. Eu não sei se são de Jesus, mas devem ser, são uns anjos, são uns anjos que vêm ali. Ai, que lindos! Que alminhas tão bonitas. Ai, se me pudessem ajudar. Há tanto tempo que eu esperava ver alguém que me pudesse ajudar... Eu sofro tanto… não tenho forças para nada, não me consigo mexer nem pedir ajuda para nada. Sinto-me tão mal, tão mal. Se me pudessem ajudar...
Doutrinador - Certamente que te vieram ajudar. Escuta o que eles têm para te dizer.
Espírito - Eles não falam, mas eu escuto dentro da cabeça a voz deles, ou melhor, o pensamento. Eles dizem que são enviados de Jesus. Que aqui Jesus manda muitas ajudas para os sofredores que vêm aqui. Eu sou uma sofredora. Podem pôr-me na lista. Eu sei que posso ter uma grande lista de espera, mas daqui eu não saio. Agora que eu cheguei aqui eu não saio daqui (...) Ai, esses raios...esses raios aliviam-me tanto! (...) Ai, minha nossa Senhora dos Mártires. Muito obrigada. Tanta fé que eu tinha, tanta fé! (...) Ai, que ajuda tão boa! Ai, isto é um milagre! (...) Ai, que grande alívio! Deus Nosso Senhor seja louvado. Tanto alívio que eu sinto!
Doutrinador - Sentes-te muito melhor agora, não é verdade?
Espírito - Eu quase já não sinto nada, só com a presença destes anjos do Senhor. Mas eu não quero ir embora.
Doutrinador - Mas tens que ir com eles.
Espírito - Mas eu aqui é que estou bem.
Doutrinador - Mas se fores com eles vais estar muito melhor. Ouve o que têm para te dizer. Porque o local para onde vais é muitíssimo melhor do que aquele onde te encontras agora. Ouve bem.
[Passa algum tempo].
Espírito - Mas a gente tem que ir à procura de sítios onde se possa receber ajuda.
Doutrinador - Não tens.
Espírito - Eles dizem que já chega de andar a depender dos outros. Tenho que começar a aprender a pedir por mim. Mas eu sei lá pedir?! Eu tenho que ir a sítios onde dão ajuda.
Doutrinador - Mas tens fé, não é verdade?
Espírito - Eu tenho muita fé. Muita fé.
Doutrinador - Então, se tens fé, a ajuda chegará até ti, porque Deus ajuda toda a gente.
Espírito - Mas porque é que eu não posso ficar? Há tantos que ficam...
Doutrinador - Não. Enganas-te. Nenhum fica.
Espírito - Então eu não os vejo ali?!
Doutrinador - Isso são alguns que ficam, porque estão em tratamento.
Espírito - Eu também preciso de tratamento.
Doutrinador - Precisas, sim senhor. Aqueles que vês ali estão no plano espiritual, como tu...
Espírito - Mas estão ali a receber ajuda.
Doutrinador - Então pergunta aos amigos o que é que te vai suceder. Pergunta-lhes a eles.
Espírito - Eles dizem-me que é tudo mental. Que eu tenho que começar a usar as minhas capacidades de mentalizar a saúde, a energia e o Amor de Jesus. Eu não vou precisar de mais tratamentos, porque já estou em condições de pedir por mim e preciso depois de me curar, porque depois tenho que ajudar os outros. Eu nem a mim me ajudo. Eu não sei nada. Se me ensinarem... Têm que ter muito trabalho comigo, porque eu não sei nada. É como começar na primeira classe. Eu não sei se tenho coragem. Eu volto logo às minhas dores. Eu estou tão habituada a elas que eu volto logo às minhas dores... Quero. Eu quero curar-me. Tenho que ter força de vontade. Mas não vou ficar sozinha, pois não... Ah, há outro como eu. Até é bom, porque sempre nos queixamos das nossas dores... Queixar é uma maneira de dizer. Oramos e pedimos ajuda a Jesus... Está bem... e se há médicos para tratar de nós... Ah, eles estão pior...? Então é por isso. Bem, quando as dores não me atacam, eu não estou mal. Se eu conseguir deixar as dores ou que elas me deixem sou capaz de fazer muitas coisas até pelos outros, porque eu sei o que é sofrer... Ah, eu não sabia... eu não fazia ideia. Como é que se pode ser assim e não saber? Desconhecer tanta coisa. Vocês sabem que eu não queria sair de junto das pessoas e estava a fazer-lhes mal. E eu julgava que elas sentiam igual a mim. Mas elas sentiam porque eu estava junto delas. E esta?!
Doutrinador - Sentiam as tuas sensações. E porque tu não queres prejudicar ninguém é indicado que acompanhes esses mensageiros de Jesus para te refazeres e, um dia mais tarde, passes a participar do auxílio tão importante e tão precioso...
Espírito - Ai, eu quero é ajudar, assim me liberte destas dores. Eu quero é fazer coisas úteis. Quero é ajudar.
Doutrinador - Vais ver que vai ser mais depressa do que aquilo que tu pensas. Vai com estes amigos.
Espírito - Deus te oiça e Nossa Senhora dos Mártires também. Tem sido a minha grande amiga.
Doutrinador - Nossa Senhora te ajude.
Espírito - E a vocês também.
Doutrinador - Muito obrigada.
Espírito - Eu é que agradeço. Muito obrigada. Eu vim ao sítio certo. Bem me tinham dito. Bem me tinham dito.
Doutrinador - Agradece a Jesus, querida amiga. Da nossa parte leva um grande abraço e, se Deus o permitir, pode ser que nos encontremos no local para onde vais.
Espírito – Ai, eu não me esqueço de vocês. Nunca me esqueço de quem me faz bem.
Doutrinador - Foi tudo com a permissão de Deus, não te esqueças.
Espírito – Ah, mas devia haver aí muita gente como vocês, a ajudar, porque há aí muito sofrimento.
Doutrinador - Temos que nos auxiliar uns aos outros. Tenho a certeza de que daqui a pouco e, quando estiveres cheia de energia, vais auxiliar muita gente.
Espírito - Ai, há muita falta de trabalhadores.
Doutrinador - Leva um grande abraço da nossa parte. Nós vamos agradecer a Deus.
Espírito - Eu fico aqui perto destes anjinhos se eles me permitirem e vou acompanhar a oração.

Passados alguns minutos, manifesta-se o Espírito Orientador destes trabalhos, enquanto estava sendo prestada ajuda a um dos elementos do grupo.
O Amigo Espiritual sublinhou que as decisões do dia-a-dia estão nas nossas mãos, remetendo a deliberação final para a nossa consciência, que não erra se “o nosso lema for o altruísmo, se a lanterna que guia a nossa caminhada for a lanterna do Amor”.

Extraído do livro "Lições de Vida Após a Morte"(ainda não distribuído), de Eduardo Guerreiro, Chiado Editora.

sábado, 5 de novembro de 2016

A católica “morta”-viva


As convicções que, de modo irracional, criámos ao longo da vida, tomando-as como verdades absolutas, sem nos interrogarmos ou as colocar em causa, continuam connosco, após a morte do corpo físico, tal como quando ainda nos encontrávamos entre os chamados ‘vivos’.
O que ocorreu na reunião mediúnica de 7 de Junho de 2005 mostra até que ponto, por um lado a persistência dessas crenças, por outro lado a ignorância dos assuntos respeitantes à vida após a “morte” nos pode reter estacionados durante algum tempo junto à crosta terrestre. O diálogo entre o Espírito que aqui se manifestou e o doutrinador é a este respeito bem elucidativo.
A entidade acabou por receber um esclarecimento prévio prestado por um ‘sacerdote’ do mundo espiritual e ficou satisfeita pelo facto de lá (no Mundo Espiritual) também existirem missas, comprovando assim que “Há muitas moradas na casa de Meu Pai”.
Passemos ao diálogo entre o Espírito manifestante e o doutrinador, a que se segue, no final, uma comunicação do Espírito Orientador desta reunião.


Doutrinador: Diz lá, meu amigo, ou minha amiga. Diz-me o que sentes.
Espírito: Eu julgava que tu eras padre.
Doutrinador: Não sou padre, apenas gosto de orar.
Espírito: Ah, mas falas nessa coisa de espiritismo.
Doutrinador: Os padres católicos não falam de espiritismo.
Espírito: Não!... Isso são coisas de Satanás.
Doutrinador: Achas?
Espírito: Pelo menos foi o que eu aprendi.
Doutrinador: Diz-me uma coisa: tu és Espírito?
Espírito: Ai a minha cabeça! Eu sofro muito.
Doutrinador: Tens sofrido bastante, não é verdade?
Espírito: Ai, nem queiras saber.
Doutrinador: És uma amiga?
Espírito: Eu não sei se sou amiga.
Doutrinador: És uma senhora?
Espírito: Eu sou uma senhora, então não se vê logo?
Doutrinador: Ora bem...
Espírito: Mas essas palavras estão certas. Agora eu estava a pensar: missa à noite não é todos os dias. Só na missa do galo. Estava a pensar que eram protestantes ou uma coisa dessas que eu não conheço. Têm lido ali uns livros estranhos, ah isso têm.
Doutrinador: E tu tens acompanhado?
Espírito: Alguma coisa, mas acho que não são livros muito recomendáveis.
Doutrinador: Tu condenas esses livros?
Espírito: Não são grande coisa. Não nos devemos meter em coisas que não nos dizem respeito.
Doutrinador: Muito bem...
Espírito: O que vale é que ela (um dos elementos do grupo) ultimamente não tem feito nada. Já largou, já largou, que aquilo era... (transitoriamente, devido ao trabalho profissional)
Doutrinador: Era demais...
Espírito: Era. Coisas assim estranhas. Eu não lia mas às vezes dava uma espreitadela. Ai, mas as minhas dores de cabeça.
Doutrinador: Ora bem, isso é que é importante para nós.
Espírito: Olha, não sabia que o Espiritismo dizia coisas certas. Mas não te metas com os mortos que isso não são boas coisas. Não devemos chamar os mortos. Os mortos estão lá para cima, a gente não deve chamá-los.
Doutrinador: O que interessa agora é a tua dor de cabeça e o teu estado físico...
Espírito: Ai, eu sofro muito...
Doutrinador: E necessitas mesmo ser tratada, não é verdade, querida amiga?
Espírito: Isto já é crónico.
Doutrinador: Não é nada crónico.
Espírito: Eu estou sempre em depressão, em grande sofrimento, não tenho forças para nada, só quero é dormir mas não consigo porque as minhas dores de cabeça são muito grandes...
Doutrinador: Permite-me que eu peça a médicos de Jesus...
Espírito: A vida não tem sentido...
Doutrinador: Mas vais encontrar sentido para a vida, vais ver.
Espírito: Não me apetece fazer nada. Nunca gostei de fazer nada.
Doutrinador: Agora que estás aqui, vamos pedir a Jesus que te cure. Não ouviste falar nos milagres de Jesus?
Espírito: Então quem é que não ouviu?! Tens cada conversa!
Doutrinador: Acreditas que Jesus está aqui presente entre nós?
Espírito: Eu não sei. Se fosse na igreja acreditava. Aqui não sei.
Doutrinador: Não ouviste dizer que onde duas ou mais pessoas estiverem reunidas em nome de Jesus, Jesus está entre elas?
Espírito: Mas para isso é que existem as igrejas.
Doutrinador: Sim mas as pessoas podem estar reunidas até em casa.
Espírito: Sim, onde eu estava acendiam umas velas.
Doutrinador: E nós aqui vamos acender outro tipo de velas.
Espírito: Mas estas coisas são crónicas. Eu não tenho vontade para nada.
Doutrinador: Permites-me que eu peça a Jesus para te auxiliar, Jesus que é o médico das almas?
Espírito: Tu és capaz de pedir e Ele ouve-te?
Doutrinador: Ouve, sim. Vou dizer o ‘Pai Nosso’.

[O doutrinador ora o ‘Pai Nosso’ e pede, com muita fé, por esta nossa querida amiga e irmã. De repente solta um grito de pavor.]

Espírito: Ai que eu estou vendo um Espírito!!! O que é isto?!!! Tirem-me daqui!!!
Doutrinador: Um momento, querida amiga.
Espírito: Eu estou vendo. Tu não estás vendo?!
Doutrinador: Sim, mas são médicos que te vêm auxiliar.
Espírito: Qual médicos?! Aquilo é um Espírito! Aquilo é um fantasma! Ai, que medo! Tira-me daqui!
Doutrinador: Tem calma.
Espírito: Eu estou vendo. Qual tem calma?! Não vês que é um Espírito? Vade retro, vade retro, vade retro! Ai, onde me meteram! É por isso que eu digo, o Espiritismo é coisa de Satanás. Tira-me daqui!
Doutrinador: Permites-me que eu fale com ele?
Espírito: Mas porque é que chamam Espíritos?
Doutrinador: Permites-me que eu fale com este nosso amigo?
Espírito: Fala lá tu com ele. Ele que saia daqui do pé de mim que eu não quero nada.
Doutrinador: Vou falar.
Espírito: Ai, que medo! Ai mãe, ai mãe, que medo! (respira fundo)
Doutrinador: Querido amigo: esta nossa irmã que está aqui presente está com uma grande dor de cabeça e tem vivido em sofrimento durante os últimos tempos. Sabemos que vens em nome de Jesus pois que, pelas vestes brancas e pela luz que irradias vens em nome de Jesus. Pedimos-te, em nome de Jesus que auxilies esta nossa querida amiga que não sabe nada da vida espiritual e que desconhece que já se encontra no mundo espiritual sendo ela própria um Espírito...
Espírito: Ah, eu?!
Doutrinador:... cujo corpo físico já ficou debaixo da terra há muito tempo...
Espírito: Olha! (espanto e admiração com as palavras do doutrinador)
Doutrinador: Ela desconhece essa situação.
Espírito: Não. Eu estou viva.
Doutrinador: Estás viva, sim, minha irmã.
Espírito: Toco-me e sinto-me. Então não falo?! Então os mortos falam? Olha que tu não estás a dizer coisa com coisa.
Doutrinador: Esse corpo não é teu.
Espírito: Ai não?!...
Doutrinador: Não.
Espírito: É emprestado...
Doutrinador: É ‘emprestado’, sim. Estás a falar através do corpo de uma médium.
Espírito: Ai... vejo espírito e oiço um maluco! Isto são coisas de doido!
Doutrinador: Olha, minha querida amiga, como te chamas?
Espírito: Sabes uma coisa (risos) com essa conversa até me está passando a dor de cabeça.
Doutrinador: Graças a Deus.
Espírito: Já não me dói assim muito. Tu és engraçado. Há anos que isto me anda a perseguir e agora...
Doutrinador: Estás a ver...
Espírito: Parece que está aliviada. Alguma coisa ganhei.
Doutrinador: Já não é mau. Diz-me agora uma coisa: já experimentaste falar com este nosso amigo que está aqui presente?
Espírito: Eu?! Até estou virada de lado para não o ver.
Doutrinador: Não faças isso.
Espírito: Ai, tenho medo.
Doutrinador: É um mensageiro de Jesus e mais hão-de vir.
Espírito: Ai, mas eu nunca vi Espíritos, nunca vi nada.
Doutrinador: Mas estás vendo agora.
Espírito: Ai, mãe, mas eu tenho medo. Olha ele ali! Ai, mãe. É que eu abro os olhos e vejo-o e mesmo de olhos fechados o vejo! Ai que desassossego.
Doutrinador: Mas eu ia informar-te de uma coisa: tu és um Espírito. Todos nós somos Espíritos imortais.
Espírito: Pois somos, mas deixa lá estar ele sossegado, que já morreu. Quero lá agora ver?! É quase transparente. Ai que aflição.
Doutrinador: Nunca ouviste dizer que a alma é imortal?
Espírito: Pois é, mas as alminhas são para estar no céu, quietinhas.
Doutrinador: E tu o que és, não és uma alminha?
Espírito: Eu sou quando morrer.
Doutrinador: Olha que o teu corpo físico já morreu há bastante tempo.
Espírito: Não morreu nada.
Doutrinador: Lembras-te onde vivias?
Espírito: Onde eu vivo. Vivo por aí. Olha lá este está-me a dizer que era ao pé da Escola.
Doutrinador: Ao pé da Escola (o doutrinador diz o nome da Escola)?
Espírito: Sim.
Doutrinador: Agora diz-me uma coisa: como é que vieste ter aqui comigo?
Espírito: Ai, eu tenho andado aqui com esta menina (elemento do grupo).
Doutrinador: Tens andado, muito bem. E achas isso natural?
Espírito: Eu estava lá na casa de um casal que é muito simpático (casal muito católico, amigo da irmã anteriormente citada).
Doutrinador: E vieste de lá.
Espírito: Vim com ela, que é muito boazinha.
Doutrinador: Sim senhor... vieste de lá.
Espírito: E quis vir com ela.
Doutrinador: Sim, mas não te lembras do teu nome.
Espírito: Sílvia.
Doutrinador: Dona Sílvia: acha natural andar na casa dos outros?
Espírito: Então, nós temos que estar acompanhados. Ninguém gosta de viver sozinho.
Doutrinador: Então num dia estás na casa de um, no outro dia estás na casa de outro. Se tivesses corpo físico achavas natural viver um dia na casa de um e outro dia na casa de outro?
Espírito: Ah, era o que eu fazia. O que eu faço.
Doutrinador: Achas natural estar agora aqui?
Espírito: Eu vim com ela. Mas sabes porque é que eu estou? É que aquilo na casa dela é um desassossego completo. Já não há privacidade nenhuma. São cães, são gatos, são pessoas. Aquela casa está invadida e... não gosto assim muito deles. Não são pessoas cá das minhas relações. Eu estava melhor com ela. Quando ela estava sozinha gostava mais. Então vim-me embora com ela.
Doutrinador: Então deixa-me dar-te uma informação que já te dei há bocado...
Espírito: Ela ia trabalhar e eu ficava lá sozinha.
Doutrinador: Muito bem, mas ficavas com depressão. Mais do que isso: ficavas com dor de cabeça.
Espírito: Olha, sabes que mais? Eu nem forças tinha para falar e agora até estou muito esperta.
Doutrinador: E tu não sabes porquê.
Espírito: Não.
Doutrinador: Deixas-me eu informar-te porquê?
Espírito: Sim...
Doutrinador: É que neste momento médicos e enfermeiros de Jesus estão aqui à tua volta.
Espírito: Não me grites que eu não sou surda.
Doutrinador: Desculpa, desculpa. Médicos e enfermeiros de Jesus estão aqui à tua volta.
Espírito: Não me digas que ainda há mais Espíritos aqui?!
Doutrinador: Há, sim senhora.
Espírito: Ai Jesus, valha-me Deus! Virgem Santíssima me acuda!
Doutrinador: E tu és um deles.
Espírito: Oh homem eu estou viva. Que mania a tua hã! Agora diz que eu estou morta!
Doutrinador: Tu usavas óculos?
Espírito: Usava, sim senhor. Uso, ai que coisa.
Doutrinador: E tu eras grande ou pequenina?
Espírito: Assim, assim.. Ai mas que perguntas!
Doutrinador: É que eu te informo que neste momento estás a falar através de uma médium.
Espírito: O que é isso?
Doutrinador: É uma pessoa que ‘empresta’ o corpo através da qual um Espírito como tu pode falar com pessoas que estão no mundo físico, como é o meu caso.
Espírito: Ai que confusão tão grande!
Doutrinador: Pois é, não percebes. Mas olha: aquela rapariga com quem tens andado e na casa da qual tens estado...
Espírito: Muito boazinha.
Doutrinador:... Exactamente. É uma pessoa que vive no corpo físico, ainda não morreu. Eu, que estou a falar contigo, tenho ainda corpo físico...
Espírito: E eu também.
Doutrinador: E tu tens corpo espiritual.
Espírito: O que é isso?
Doutrinador: O corpo espiritual é uma cópia exacta do corpo físico só que não é tão denso como o corpo físico, estás a perceber?
Espírito: Ai, tu sabes muito.
Doutrinador: É por isso que tu podes atravessar paredes. É por isso que tu podes atravessar portas.
Espírito: Olha lá que eu nunca tinha pensado nisso. E entro e saio, sem chave nem nada.
Doutrinador: E isso sucede porquê?! Porque já te encontras no mundo espiritual.
Espírito: Eu estou viva.
Doutrinador: Pois claro que estás. Então o espírito não é imortal? Tu és Espírito minha querida amiga.
Espírito: A gente pensa no Espírito assim como uma coisa...
Doutrinador: Como uma coisa do outro mundo, não é verdade? Não é nada do outro mundo, é deste mundo.
Espírito: Ah, sim!...
Doutrinador: Nós estivemos há bocado a ler o Evangelho Segundo o Espiritismo.
Espírito: Ai, lá vens tu outra vez com essa expressão. Se o meu padre te ouvisse! Se o meu padre te ouvisse corria contigo.
Doutrinador: Mas será que o teu padre não está também no mundo espiritual?
Espírito: Não!
Doutrinador: De certeza que ainda está aqui a dar missa, na igreja, aqui em (nome da cidade)?
Espírito: Sim!!!
Doutrinador: Bom, mas há padres que estão no mundo espiritual.
Espírito: Ai há?
Doutrinador: Sim.
Espírito: Hás-de apresentar-me um. Eu não sei. Eu ando aqui na Terra, vou aos sítios onde vai toda a gente...
Doutrinador: Permites-me que eu peça a Jesus que possa um senhor padre vir até aqui falar contigo?
Espírito: Sim.
Doutrinador: Então eu vou pedir.

[O doutrinador ora a Deus, Nosso Pai e a Jesus, Nosso Mestre, que permita que um amigo espiritual possa vir ensinar e esclarecer esta nossa querida irmã. Todos os elementos do grupo continuam concentrados emitindo vibrações de Amor sobre esta nossa irmã. Decorrem alguns momentos. Uma entidade com as vestes de padre aparece a esta nossa irmã que estabelece de imediato a conversação de que seguidamente reproduzimos o trecho que segue]

Espírito: Ai, graças a Deus! Ai (suspiro) senhor padre: eu estou muito desassossegada. Nem imagina! Eu tenho ouvido coisas esta noite que é de fazer bradar aos céus!... (...) Pois, isso é o que eu oiço sempre. Claro. Jesus está sempre presente. É isso o que eu oiço na missa, senhor padre. Nem imagina, olhe, desde ver fantasmas, a ver gente invadir-nos o nosso espaço, tenho gente de nariz empinado, aquilo é um desassossego. Chego aqui... estava calminha, estava bem... de repente espiritismo para cá, espiritismo para lá. Fantasmas! Agora dizem que eu não estou viva, quando eu estou viva. Até estou mais viva, pois eu não falava quase, estava sem forças para nada e até a minha dor de cabeça já lá vai, que Deus me ajude e que ela não regresse. Ai, senhor padre, eu estou muito baralhada. Tem que me ajudar, por amor de Deus. (...) Então quer dizer que é tudo verdade?! Ah... olha... oh senhor padre: nunca nos ensinaram nada disso. Olhe que nunca faltava! Eu ia todos os sábados e domingos! Eu nunca faltava a nenhum encontro! Nunca ouvi o senhor padre nem ninguém dizer nada disso! Só falam em alminhas, alminhas, alminhas... Isto é tudo novidade para mim! Eu estou muito baralhada. Ai há pessoas que também... Ah, o senhor padre também diz missa e há pessoas que como eu também vão à missa? Ah... eu não sabia. (...) Ai e ouvem-me e falam comigo? Pois eu realmente não falo com ninguém só oiço as conversas. Ai que bom. Ai senhor padre, mas que grandes novidades! Pois... Ah... Ai mãe, olha que uma destas eu não esperava nada. Mas há coisas muito estranhas! É, é verdade, eu não posso perceber tudo num dia, isso é verdade. Missas onde me informam destas coisas todas? Isso é que eu queria. Ai vou, pois claro que vou.
Tenho andado um bocado perdida, sem vontade para nada. Ainda por cima não consigo falar com ninguém, isto é uma tristeza muito grande. (...) Olhe pois é graças a Jesus, isso já percebi. Tenho que agradecer aqui a este amigo que ainda por cima eu não estava a tratar muito bem. Tenho que rezar uns pai-nossos para me penitenciar, que eu não estava a comportar-me muito bem com ele e, se calhar... pois... talvez... talvez estivesse a fazer mal às pessoas.
Eu não queria fazer mal a ninguém, senhor padre, mas se andar na Terra é passar o nosso sofrimento aos outros, pois realmente não devo andar, pois já basta o que eu sofro. Eu não fazia ideia, senhor padre. Eu peço desculpa a todos. E tu, minha querida menina, perdoa-me, pois, eu gostava de estar ao pé de ti, não sabia que te estava a fazer mal. Não acredites no que tens sentido porque isso são cá as minhas coisas, são os meus sofrimentos, o que eu passei e uma consciência que não está assim muito limpa... todos somos pecadores e.… não acredites que isso não és tu, sou eu. Eu é que não sabia. Se eu soubesse não ficava junto de ti. E tu, meu amigo, desculpa-me também porque... olha, afinal pois já pensei um bocadinho, já mudei um bocadinho de opinião olha que o espiritismo tem a sua razão de ser. Mas olha que os senhores padres não querem que a gente saiba nada disto. Aqui este senhor padre está-me a dizer que eles sabem todos mas não dizem. Mas deviam dizer. A verdade deve-se dizer sempre.

Doutrinador: Olha minha querida amiga, nós te agradecemos.
Espírito: Eu é que vos agradeço a todos.
Doutrinador: Nós agora vamos orar por ti.
Espírito: Muito agradecida. E não vos vou esquecer nas minhas orações e nas missas a que agora vou poder assistir.
[O doutrinador ora o ‘Pai Nosso’, agradecendo a Deus pelas bênçãos recebidas, pela luz recebida por esta nossa querida amiga e todos os sofredores que se encontram presentes]

Retirado do livro: "Falando com os Espíritos", de Eduardo Guerreiro [ainda não publicado]