Espíritos assustadores
Era
colaborador num Centro Espírita. Sensitivo. Mas tinha um tique muito peculiar.
Sempre que sentia alguma aproximação espiritual, dava um salto, como se fora
impulsionado por uma mola, estendia os braços com as mãos espalmadas para
diante e esbugalhava os olhos para um ponto distante no infinito.
Quem
não conhecesse este seu modo de actuar, sendo apanhado desprevenido, ficava no
mínimo surpreendido, para não dizer assustado.
Muitas
foram as vezes que os seus companheiros o advertiram, sem sucesso, para se
controlar. O hábito de saltar, estender os braços com as mãos espalmadas e
olhos arregalados, como se quisesse parar algo invisível, continuou. Os
trabalhadores do Centro desistiram de o fazer mudar de comportamento.
As
reuniões públicas nesse Centro começavam, invariavelmente, à mesma hora, em
determinado dia da semana. A sala era relativamente pequena. Após estarem
acomodados os participantes, pontualmente e antes da oração inicial, a porta
era encerrada e ninguém mais entrava.
Naquele
dia, alguém que não conhecia as regras da casa, chegou atrasado. Encontrando a
porta da rua fechada, bateu. A ordem era para não abrir. Mas, perante a
insistência e o transtorno que estava causando, os responsáveis da Casa Espírita
resolveram, excepcionalmente, abrir a porta ao visitante inoportuno.
O
confrade, que vimos citando, ofereceu-se para o fazer.
O
visitante era, afinal, uma senhora. Vinha ao Centro pela primeira vez. Mas
deveria vir acompanhada por entidades espirituais, a julgar pela habitual
reacção desse irmão que, assim que a encarou, deu um salto, colocou os braços
esticados com as palmas das mãos abertas e esbugalhou os olhos.
A
senhora, que desconhecia totalmente o que era o Espiritismo, fugiu, de
imediato, esbaforida, rua abaixo.
Sendo
o Espiritismo, à época (anos 80 do século passado), confundido com bruxedo,
feitiçaria, adivinhação e outras actividades mais ou menos ocultas e misteriosas,
próprias de gente que não funcionaria
muito bem da cabeça, não é difícil presumir o que teria, então, passado
pela mente dessa senhora.
Podemos
imaginar as conversas havidas, posteriormente, com as suas vizinhas e amigas e
os relatos coloridos da ocorrência à porta do Centro Espírita.
De
facto, na povoação, começou a correr o rumor de que naquela casa (Centro
Espírita) deveriam existir espíritos
assustadores.
Moral
da história:
1.
Todo o médium deverá aprender a controlar-se e estudar a Doutrina Espírita. As
reuniões de educação mediúnica têm este objectivo.
2.
A grande maioria das pessoas que procura o Centro Espírita, fá-lo em busca de
auxílio. Desconhecem o que é a Doutrina Espírita. Desconhecem quais são as
finalidades de um Centro Espírita, possuindo, muitas vezes, ideias
preconceituosas em relação a tudo quanto se relacione com o intercâmbio entre
os dois planos – físico e espiritual.
Cabe,
a quem está informado, esclarecer, estabelecendo a distinção clara entre
mediunismo e espiritismo, informando que a mediunidade é, em si mesma, neutra e
que existem médiuns que são espíritas, como também aqueles que o não são. E
explicar, de forma simples e clara, em que consiste a Doutrina Espírita ou
Espiritismo.
Retirado do livro de
Eduardo Guerreiro “Histórias Verídicas com Pessoas e Espíritos”, Chiado Editora
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