segunda-feira, 9 de junho de 2008

Homenagem a Camões

Amanhã, 10 de Junho, é dia de Camões e, estando eu a reflectir sobre que tema introduzir neste blog, veio parar-me às mãos, como que por acaso, um livro de Jorge Rizzini, intitulado: “Antologia do Mais Além”, contendo uma poesia psicografada do referido poeta. O seu conteúdo semântico e linguístico é muito semelhante ao poema que nos deixou em vida e, por demais conhecido: “Alma Minha Gentil que te partiste”, pelo que aqui deixo à reflexão de todos a comparação entre os dois.

Camões - Alma minha gentil, que te partiste

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Algua cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.(1)


Este belo soneto aproxima-se do soneto XXXVII de Petrarca, mas o de Camões é de mais pura espiritualidade e mais penetrante melodia. Segundo o manuscrito da VIII Década de Couto, existente na Biblioteca Municipal do Porto, foi ele inspirado pela rapariga oriental que naufragou com o Poeta na foz do Mécon, ali morrendo afogada.
Hernâni Cidade, Luís de Camões - Lírica, Círculo de Leitores, Lisboa, 1973
http://www.instituto-camoes.pt/escritores/camoes/soneto15.htm

Alma Amiga que à Terra Te Partiste…

Alma amiga que à Terra te partiste
Em busca do viver tão descontente,
Que te abençoe Deus eternamente,
E que te faça leve o fado triste.

Bem sei que a evolução do ser consiste
Nas mil reencarnações que o Pai consente,
E que aos Céus voltarás em luz fulgente,
Inda maior que quando aqui subiste;

Mas, se na Terra, um dia, a crua dor
Envolver-te a formosa e gentil alma,
Que te não desespere o duro fado;

Ah! Roga aos Céus com teu imenso amor
Que bem cedo eu te leve a doce calma,
Quão cedo me trouxeste no passado!

In “Antologia do Mais Além”, Jorge Rizzini, pág. 87, 2ª edição, 1979 (Edições FEESP)

Pequenas notas biográficas:
Jorge Rizzini foi escritor, jornalista, conviveu com Herculano Pires, participando nos serões e debates no Clube dos Jornalistas Espíritas (1950), a quem mostrou a obra poética, recebida mediunicamente.
Psicografou, apenas em três meses, poesias de autores de grande nomeada, desde Anchieta a Cornélio Pires, de Bocage a Florbela Espanca ou Augusto dos Anjos, reunindo uma impressionante antologia de grandes vultos da cultura brasileira e portuguesa.

Sendo a sua craveira intelectual bastante conhecida, nunca tinha manifestado qualquer pendor especial para a poesia.
Quando escrevia esta antologia, via uma luz azulada e arredondada sobre o papel ou sobre a mão que escrevia e ouvia pancadas dos espíritos que, ao mesmo tempo que paravam o lápis no papel, o avisavam dum erro acabado de cometer no poema.

Ele próprio via os poetas de quem recebia a psicografia, bem como a sua mulher, Iracema, médium vidente. Esta, se não os conhecia, identificava-os posteriormente, através de fotos que Jorge lhe mostrava.

3 comentários:

  1. Joana, estive a ler alguns posts antigos. Este blogue é um lugar bonito. Obrigado.
    Bj

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  2. Eu é que fico feliz, por você gostar deste blog.
    Volte sempre

    Um abraço
    Joana

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  3. adorei seu blog....
    joana_flor@mulherhotmail.com

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