Sofrimento e revolta
No
dia 7 de Janeiro de 1995 manifestou-se uma entidade em situação de grande
desespero e desorientação. Dir-se-ia que, pelas suas palavras, o sofrimento e a
revolta formam um círculo vicioso que o envolve, atormentando-o e do qual não
consegue sair. O orgulho e a recusa de um ser Criador impede-o de ser
auxiliado. Referindo-se a Deus, diz: “Recuso-O, não O quero, porque não O
inventei. Não necessito d’Ele. Aborreço-O porque me criou!” Manifesta-se,
posteriormente, o Espírito Orientador que esclarece a situação.
Espírito:
“Sinto-me
muito mal. Não são palavras de que preciso. São actos. Quem me tira este peso
enorme que se abate sobre mim?! Que me acontece para estar assim? Quem é Deus,
que não me ajuda? Somos todos doidos? Não temos leme, apenas palavras e enganos
para sobrevivermos? E para quê? Quem escolhe? Como continuarmos? Quem somos?
Porque viemos? Donde viemos e para onde vamos? Que fazemos com a Vida? Para quê
dormir? Para quê acordar? Devemos dormir para sempre? Pode-se dormir para
sempre? Quero descansar a minha mente, quero deixar de pensar, de estar, de
ser! Por favor, que a minha voz se cale para sempre! Que o meu cérebro se perca
no infinito! Quero o não ser, que a minha pessoa se desfaça no espaço sideral,
que eu me transforme em pó, que me confunda com o Universo! Quem me ajuda?!
Sou
o sem nome, pois não quero ser, apenas descontar aos poucos para me reduzir a
Nada. O Nada é o Absoluto! E se não for? Para onde vamos? Por que temos de ir a
algum lado? Quem é tão cruel que nos tenha programado para não parar nunca? Que
tortura maior nunca deixar de ser. Ser forçado a seguir em frente sem saber
onde aportar. Sem poder decidir não continuar! Simplesmente deixar de ser!
Simplesmente morrer!
Sou materialista, não acredito e não
quero acreditar! Não vejo necessidade de perpetuar um
sofrimento insuportável! Tenho o direito de acabar! Quero decidir sobre a minha
pessoa! Ninguém tem o direito moral de pensar por mim! Nem um possível Criador!
Quem Lhe pediu que me inventasse? Quem O
autorizou a colocar em mim uma mola que me obriga a ser, quando não quero ser
um dia. Que tudo se apague, que eu possa, enfim, descansar! Recuso-O, não O quero, porque não O
inventei. Não necessito d’Ele. Aborreço-O porque me criou!”
Espírito Orientador:
Este
nosso irmão peregrina nas trevas do sofrimento e da revolta, que cada vez mais
agravam esse sofrimento e essa mesma revolta. Grande desespero lhe invade a
alma e quando tentamos erguê-lo e auxiliá-lo a sua recusa é sistemática e a sua
luta avassaladora. Recusa o Senhor, sempre
se julgou dono do seu próprio Destino e não suporta a existência de um ser
superior a si próprio. O orgulho
cega as almas que não compreendem a beleza da Vida Eterna porque
nunca lhe sentiram os efeitos. Apenas o sofrimento e o desânimo lhes
constituem a estrutura espiritual e o seu perispírito se desequilibra e se
deforma à medida que aumenta a revolta. Com
o tempo conseguirão estes irmãos “apagar-se” temporariamente, dando lugar a formas
ovoides (1), que dormitam
“eternamente” recusando a luta que salva.
Só
milénios de reencarnações sucessivas
permitirão armar estes irmãos de forças suficientes e de renúncia bastante para
enfrentarem o Pai, alguém que lhe é Superior, sim, mas também Aquele que os Ama,
que os pretende perfeitos e que anseia tê-los junto de Si. Grande sofrimento o
destes irmãos. Muita oração se faz necessária para que raios benfazejos de luz
possam um dia penetrar nas suas formas distorcidas e alterar a pouco e pouco a
sua organização perispíritica.
Não
possuímos ouro, mas atentemos no óbolo da viúva. Mais agradável a Deus é uma prece, do que todo o supérfluo da nossa
existência. Todos não somos muitos. Que nas nossas preces diárias nos lembremos
sempre de incluir estes nossos irmãos revoltados que as religiões tradicionais
remeteram aos Infernos. Simbolicamente, essas Esferas de Sofrimento e dor
incomensuráveis nada mais são do que nós próprios. Maior sacrifício exige de
nós de que se de verdadeiros antros de pavor se tratassem. Sendo exteriores,
mais fácil se tornaria a Libertação. Estando
cristalizadas no nosso íntimo necessário se faz arrancá-las com as nossas
próprias mãos, mudando toda uma estrutura de pensamento e de acção. Tarefa
tantas vezes julgada impossível! Daí tanta revolta contra aquele que nos criou
porque nos “obriga a evoluir”.
Oremos
com Fé e com muito Amor!
As
nossas preces formarão cordões que, interligando-se, construirão a melhor arma
para estes infelizes lutarem. Dêmos-lhes a ferramenta com que erguerão as suas
forças tão debilitadas!
João
da Cruz
(1)
Sobre os ‘ovoides’ ver "Evolução em Dois Mundos,"
cap.XII, André Luiz/Chico Xavier/Waldo Vieira, FEB (Federação Espírita
Brasileira).
Extraído do livro “Falando com os
Espíritos”, de Eduardo Guerreiro (ainda não publicado)
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