Um católico cumpridor
No
dia 16 de julho de 2007 manifestou-se um amigo sofredor que enquanto encarnado
foi um católico cumpridor de todos os rituais: “Sempre fui virtuoso. Ia à
missa, rezava, comungava, confessava os meus pecados ao senhor padre. É para
isso que ele lá está. E Deus perdoava-me.” Acabou sendo encaminhado pelo padre
em quem ele confiava.
Em
seguida manifesta-se o Espírito Orientador dos trabalhos que meditou sobre a
importância da vida física e, entre outras coisas disse: “Muitos se refugiam em
conventos, tentando atingi-Lo, dedicando-Lhe toda a sua vida terrena,
esquecendo que ela é tão limitada que muitas vidas serão necessárias e que por
muito que Nele pensemos temos que prová-lo no mundo em que vivemos, pois é na
experiência, é nas provas que o mundo nos aporta, nos contactos com aqueles a
quem ferimos noutras vidas, que o nosso entendimento se alarga e que o nosso
coração é testado mais uma vez, sendo convidado ao perdão, ao esquecimento e
finalmente ao amor dos adversários.”
(...)
Doutrinador:
Diz, meu amigo.
Espírito:
O Senhor padre é que tem que dizer.
Doutrinador:
Eu não sou padre, amigo.
Espírito:
Então eu não estou na missa?
Doutrinador:
Não. Estamos num local onde fazemos oração, onde oramos a Jesus, a Deus Nosso
Pai e lemos lições do Evangelho. Não é necessário estar na missa.
Espírito:
Ah, mas eu sempre ouvi na missa.
Doutrinador:
Mas agora ouves aqui connosco. É um local particular onde nós nos reunimos,
oramos, pedimos ajuda a Deus para irmãos que estejam em sofrimento, já no mundo
espiritual, como é o teu caso...
Espírito:
Eu fui virtuoso.
Doutrinador:
Graças a Deus, meu amigo.
Espírito:
Graças a Deus. Não faltava a uma missa.
Doutrinador:
Bem... e eras bom para com os teus semelhantes?
Espírito:
Ninguém é perfeito.
Doutrinador:
Praticavas a Caridade?
Espírito:
O que é isso?
Doutrinador:
A Caridade é ajudar o próximo.
Espírito:
Ajudava a minha família. O próximo?! O que é o próximo? Ajudava a minha
família. Sempre trabalhei para a minha família.
Doutrinador:
O próximo são os necessitados...
Espírito:
Ah, isso ninguém consegue salvar o mundo.
Doutrinador:
Não se trata de salvar o mundo. Mas se visses alguém em dificuldades...
Espírito: Eu
dava a minha contribuição na igreja.
Doutrinador:
Mas nunca encontraste alguém com dificuldades que se aproximasse de ti?
Espírito:
Pois por haver muita gente é que não podemos ajudar a todos.
Doutrinador:
Sim, mas quando podias e sempre que podias criavas à tua volta um ambiente
alegre, optimista?
Espírito:
Que perguntas tão difíceis.
Doutrinador:
No teu trabalho, por exemplo?
Espírito:
Sempre fui virtuoso. Ia à missa, rezava, comungava, confessava os meus pecados
ao senhor padre. É para isso que ele lá está. E Deus perdoava-me.
Doutrinador:
Cumprias todas essas obrigações para com a Igreja Católica, não é verdade?
Espírito:
E Deus perdoava-me.
Doutrinador:
Também os fariseus cumpriam as obrigações deles...
Espírito:
Eu não sou fariseu. Calma aí! Calma aí!
Doutrinador:
Eu não estava a acusar.
Espírito:
Tu não és padre mas acusas.
Doutrinador:
Não estou nada a acusar.
Espírito:
Não sei quem és.
Doutrinador:
Sou um amigo. Sou teu amigo.
Espírito:
Então vai lá vestir a batina para conversares assim comigo. Eu só aceito
conselhos do padre. Esse é que me manda rezar não sei quantos ‘pai-nossos’ e
não sei quantas ‘ave-marias’ e eu rezo. Mas isso é porque ele é padre. Tu, não.
Doutrinador:
Resolveu-te alguma coisa na vida?
Espírito:
Fiquei com a consciência mais tranquila.
Doutrinador:
Diz-me uma coisa: o que é que tu fazias, se não é indiscrição. Qual era o teu
trabalho?
Espírito: (Bocejos) Trabalhava com contas.
Doutrinador:
Eras contabilista?
Espírito:
Podes dizer isso.
Doutrinador:
E eras empregado?
Espírito:
Era e não era.
Doutrinador:
Tinhas a tua própria casa de contabilidade?
Espírito:
Não!
Doutrinador:
Então eras empregado de alguém...
Espírito:
E mandava noutros.
Doutrinador:
E criavas bom ambiente no teu local de trabalho?
Espírito:
Mas isto é algum inquérito? Já te disse que tu não és padre. Vais-me dar a
comunhão a seguir?
Doutrinador:
De modo algum. Aqui não se dá a comunhão.
Espírito:
Devias dar porque já há muito tempo que não a tomo.
Doutrinador:
Sabes... Há uma questão que é muito importante. Não são as obrigações que a
Igreja Católica te exigia que fazem de ti uma pessoa melhor ou pior.
Espírito:
Mas era cumpridor. Então não ganhamos o céu?
Doutrinador:
Pois aí é que te enganas, querido amigo. Neste momento achas que estás no céu?
Espírito:
Não era bem aquilo que eu esperava. Julgava que o céu era melhor que a Terra.
Doutrinador:
Se calhar ainda te encontras na Terra.
Espírito:
A bem dizer não. Ando por aqui. Ando por aqui perto.
Doutrinador:
Aqui nesta cidade?
Espírito:
Por onde calha. É bom porque não precisamos de automóvel. Já percebi como é que
hei-de ir parar a um sítio. Não sei como é que vim aqui parar. Mas isto é
porque ainda estou pouco treinado.
Doutrinador:
Mas ainda bem que vieste aqui. Com a graça de Deus.
Espírito:
Isso não sei. Tu és muito esquisito.
Doutrinador:
Porque dizes isso?
Espírito:
Porque tens fala de padre mas não és padre.
Doutrinador:
Mas, ouve lá: é preciso estar vestido de batina para ser padre?
Espírito:
Ah... o padre às vezes falava sem batina. Na igreja é que a gente se
confessava.
Doutrinador:
Nunca falaste com o padre fora da igreja?
Espírito:
Mas não eram estas coisas. Ele não falava destas coisas. Está bem... às vezes
pedia-se um conselho, mas pedia-se na missa. Eu ia todos os dias à missa, todos
os dias falava, todos os dias ouvia falar... todos os dias não, uma vez por
semana ia comungar e ouvia sermão.
Doutrinador:
E gostavas do sermão...
Espírito:
Lá gostar não gostava, não é, mas... pronto!
Doutrinador:
Diz-me uma coisa, meu amigo: neste momento achas que te encontras bem?
Espírito: (Bocejos) Bem, não. Nunca estive bem.
Doutrinador:
Provavelmente estás em sofrimento, não é verdade? Estás em sofrimento e
necessitas, certamente, de te curar e de seres auxiliado.
Espírito:
Ah, isso não dizia que não. Devo-me ter enganado no rumo.
Doutrinador:
Ora bem: essa dor que tu sentes, esse mau estar que tu sentes, tudo isso,
amigo, precisa de ser tratado.
Espírito:
Ai, não queiras saber! Não queiras saber... Mas, afinal quem és tu?
(continua)
Extraído do livro "Falando com os Espíritos", de Eduardo Guerreiro (não publicado ainda)
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