domingo, 20 de novembro de 2016

Um católico cumpridor

No dia 16 de julho de 2007 manifestou-se um amigo sofredor que enquanto encarnado foi um católico cumpridor de todos os rituais: “Sempre fui virtuoso. Ia à missa, rezava, comungava, confessava os meus pecados ao senhor padre. É para isso que ele lá está. E Deus perdoava-me.” Acabou sendo encaminhado pelo padre em quem ele confiava.
Em seguida manifesta-se o Espírito Orientador dos trabalhos que meditou sobre a importância da vida física e, entre outras coisas disse: “Muitos se refugiam em conventos, tentando atingi-Lo, dedicando-Lhe toda a sua vida terrena, esquecendo que ela é tão limitada que muitas vidas serão necessárias e que por muito que Nele pensemos temos que prová-lo no mundo em que vivemos, pois é na experiência, é nas provas que o mundo nos aporta, nos contactos com aqueles a quem ferimos noutras vidas, que o nosso entendimento se alarga e que o nosso coração é testado mais uma vez, sendo convidado ao perdão, ao esquecimento e finalmente ao amor dos adversários.”

(...)
Doutrinador: Diz, meu amigo.
Espírito: O Senhor padre é que tem que dizer.
Doutrinador: Eu não sou padre, amigo.
Espírito: Então eu não estou na missa?
Doutrinador: Não. Estamos num local onde fazemos oração, onde oramos a Jesus, a Deus Nosso Pai e lemos lições do Evangelho. Não é necessário estar na missa.
Espírito: Ah, mas eu sempre ouvi na missa.
Doutrinador: Mas agora ouves aqui connosco. É um local particular onde nós nos reunimos, oramos, pedimos ajuda a Deus para irmãos que estejam em sofrimento, já no mundo espiritual, como é o teu caso...
Espírito: Eu fui virtuoso.
Doutrinador: Graças a Deus, meu amigo.
Espírito: Graças a Deus. Não faltava a uma missa.
Doutrinador: Bem... e eras bom para com os teus semelhantes?
Espírito: Ninguém é perfeito.
Doutrinador: Praticavas a Caridade?
Espírito: O que é isso?
Doutrinador: A Caridade é ajudar o próximo.
Espírito: Ajudava a minha família. O próximo?! O que é o próximo? Ajudava a minha família. Sempre trabalhei para a minha família.
Doutrinador: O próximo são os necessitados...
Espírito: Ah, isso ninguém consegue salvar o mundo.
Doutrinador: Não se trata de salvar o mundo. Mas se visses alguém em dificuldades...
Espírito: Eu dava a minha contribuição na igreja.
Doutrinador: Mas nunca encontraste alguém com dificuldades que se aproximasse de ti?
Espírito: Pois por haver muita gente é que não podemos ajudar a todos.
Doutrinador: Sim, mas quando podias e sempre que podias criavas à tua volta um ambiente alegre, optimista?
Espírito: Que perguntas tão difíceis.
Doutrinador: No teu trabalho, por exemplo?
Espírito: Sempre fui virtuoso. Ia à missa, rezava, comungava, confessava os meus pecados ao senhor padre. É para isso que ele lá está. E Deus perdoava-me.
Doutrinador: Cumprias todas essas obrigações para com a Igreja Católica, não é verdade?
Espírito: E Deus perdoava-me.
Doutrinador: Também os fariseus cumpriam as obrigações deles...
Espírito: Eu não sou fariseu. Calma aí! Calma aí!
Doutrinador: Eu não estava a acusar.
Espírito: Tu não és padre mas acusas.
Doutrinador: Não estou nada a acusar.
Espírito: Não sei quem és.
Doutrinador: Sou um amigo. Sou teu amigo.
Espírito: Então vai lá vestir a batina para conversares assim comigo. Eu só aceito conselhos do padre. Esse é que me manda rezar não sei quantos ‘pai-nossos’ e não sei quantas ‘ave-marias’ e eu rezo. Mas isso é porque ele é padre. Tu, não.
Doutrinador: Resolveu-te alguma coisa na vida?
Espírito: Fiquei com a consciência mais tranquila.
Doutrinador: Diz-me uma coisa: o que é que tu fazias, se não é indiscrição. Qual era o teu trabalho?
Espírito: (Bocejos) Trabalhava com contas.
Doutrinador: Eras contabilista?
Espírito: Podes dizer isso.
Doutrinador: E eras empregado?
Espírito: Era e não era.
Doutrinador: Tinhas a tua própria casa de contabilidade?
Espírito: Não!
Doutrinador: Então eras empregado de alguém...
Espírito: E mandava noutros.
Doutrinador: E criavas bom ambiente no teu local de trabalho?
Espírito: Mas isto é algum inquérito? Já te disse que tu não és padre. Vais-me dar a comunhão a seguir?
Doutrinador: De modo algum. Aqui não se dá a comunhão.
Espírito: Devias dar porque já há muito tempo que não a tomo.
Doutrinador: Sabes... Há uma questão que é muito importante. Não são as obrigações que a Igreja Católica te exigia que fazem de ti uma pessoa melhor ou pior.
Espírito: Mas era cumpridor. Então não ganhamos o céu?
Doutrinador: Pois aí é que te enganas, querido amigo. Neste momento achas que estás no céu?
Espírito: Não era bem aquilo que eu esperava. Julgava que o céu era melhor que a Terra.
Doutrinador: Se calhar ainda te encontras na Terra.
Espírito: A bem dizer não. Ando por aqui. Ando por aqui perto.
Doutrinador: Aqui nesta cidade?
Espírito: Por onde calha. É bom porque não precisamos de automóvel. Já percebi como é que hei-de ir parar a um sítio. Não sei como é que vim aqui parar. Mas isto é porque ainda estou pouco treinado.
Doutrinador: Mas ainda bem que vieste aqui. Com a graça de Deus.
Espírito: Isso não sei. Tu és muito esquisito.
Doutrinador: Porque dizes isso?
Espírito: Porque tens fala de padre mas não és padre.
Doutrinador: Mas, ouve lá: é preciso estar vestido de batina para ser padre?
Espírito: Ah... o padre às vezes falava sem batina. Na igreja é que a gente se confessava.
Doutrinador: Nunca falaste com o padre fora da igreja?
Espírito: Mas não eram estas coisas. Ele não falava destas coisas. Está bem... às vezes pedia-se um conselho, mas pedia-se na missa. Eu ia todos os dias à missa, todos os dias falava, todos os dias ouvia falar... todos os dias não, uma vez por semana ia comungar e ouvia sermão.
Doutrinador: E gostavas do sermão...
Espírito: Lá gostar não gostava, não é, mas... pronto!
Doutrinador: Diz-me uma coisa, meu amigo: neste momento achas que te encontras bem?
Espírito: (Bocejos) Bem, não. Nunca estive bem.
Doutrinador: Provavelmente estás em sofrimento, não é verdade? Estás em sofrimento e necessitas, certamente, de te curar e de seres auxiliado.
Espírito: Ah, isso não dizia que não. Devo-me ter enganado no rumo.
Doutrinador: Ora bem: essa dor que tu sentes, esse mau estar que tu sentes, tudo isso, amigo, precisa de ser tratado.
Espírito: Ai, não queiras saber! Não queiras saber... Mas, afinal quem és tu?

(continua)

Extraído do livro "Falando com os Espíritos", de Eduardo Guerreiro  (não publicado ainda)




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