quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Santo Agostinho e o Egoísmo

Ainda a propósito do tema “Egoísmo”, tão difícil de arrancar de nosso íntimo, voltamos ao assunto afim de transcrevermos a belíssima e profunda mensagem de Santo Agostinho, respondendo à questão delicada de como agir para conseguirmos eliminar de nosso ser este tão arreigado vício, causador de tantos desastres consumados, ao longo de séculos, até hoje:
Em “Conhecimento de si mesmo”, analisemos a questão 919 a):

"- Conhecemos toda a sabedoria desta máxima, porém a dificuldade está precisamente em cada um conhecer-se a si mesmo. Qual o meio de consegui-lo?"

“Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma.
Aquele que, todas as noites, evocasse todas as ações que praticara durante o dia e inquirisse de si mesmo o bem ou o mal que houvera feito, rogando a Deus e ao seu anjo de guarda que o esclarecessem, grande força adquiriria para se aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria.
Dirigi, pois, a vós mesmos perguntas, interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que obcjetivo procedestes em tal ou tal circunstância, sobre se fizestes alguma coisa que, feita por outrem, censuraríeis, sobre se obrastes alguma acção que não ousaríeis confessar.
Perguntai ainda mais: “Se aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de novo no mundo dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado?”
“Examinai o que pudestes ter obrado contra Deus, depois contra o vosso próximo e, finalmente, contra vós mesmos. As respostas vos darão, ou o descanso para a vossa consciência, ou a indicação de um mal que precise ser curado.
“O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual. Mas, direis, como há-de alguém julgar-se a si mesmo? Não está aí a ilusão do amor-próprio para atenuar as faltas e torná-las desculpáveis? O avarento se considera apenas económico e previdente; o orgulhoso julga que em si só há dignidade. Isto é muito real, mas tendes um meio de verificação que não pode iludir-vos.
Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas acções, inquiri como a qualificaríeis, se praticada por outra pessoa. Se a censurais noutrem, não na poderia ter por legítima quando fordes o seu autor, pois que Deus não usa de duas medidas na aplicação de Sua justiça. Procurai também saber o que dela pensam os vossos semelhantes e não desprezeis a opinião dos vossos inimigos, porquanto esses nenhum interesse têm em mascarar a verdade e Deus muitas vezes os coloca ao vosso lado como um espelho, a fim de que sejais advertidos com mais franqueza do que o faria um amigo.
Perscrute, por conseguinte, a sua consciência aquele que se sinta possuído do desejo sério de melhorar-se, a fim de extirpar de si os maus pendores, como do seu jardim arranca as ervas daninhas; dê balanço no seu dia moral para, a exemplo do comerciante, avaliar suas perdas e seus lucros e eu vos asseguro que a conta destes será mais avultada que a daquelas. Se puder dizer que foi bom o seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o despertar na outra vida.

“Formulai, pois, de vós para convosco, questões nítidas e precisas e não temais multiplicá-las. Justo é que se gastem alguns minutos para conquistar uma felicidade eterna.

Não trabalhais todos os dias com o fito de juntar haveres que vos garantam repouso na velhice?
Não constitui esse repouso o objecto de todos os vossos desejos, o fim que vos faz suportar fadigas e privações temporárias?
Pois bem! Que é esse descanso de alguns dias, turbado sempre pelas enfermidades do corpo, em comparação com o que espera o homem de bem?
Não valerá este outro a pena de alguns esforços?
Sei haver muitos que dizem ser positivo o presente e incerto o futuro. Ora, esta exactamente a ideia que estamos encarregados de eliminar do vosso íntimo, visto desejarmos fazer que compreendais esse futuro, de modo a não restar nenhuma dúvida em vossa alma. Por isso foi que primeiro chamamos a vossa atenção por meio de fenómenos capazes de ferir-vos os sentidos e que agora vos damos instruções, que cada um de vós se acha encarregado de espalhar. Com este objectivo é que ditamos "O Livro dos Espíritos.”
SANTO AGOSTINHO.

E Kardec acrescenta: "Muitas faltas que cometemos nos passam despercebidas. Se, efectivamente, seguindo o conselho de Santo Agostinho, interrogássemos mais amiúde a nossa consciência, veríamos quantas vezes falimos sem que o suspeitemos, unicamente por não perscrutarmos a natureza e o móvel dos nossos actos."

PARTE 3ª - CAPÍTULO XII - DA PERFEIÇÃO MORAL

4 comentários:

  1. Gostei demais dessa matéria, e por coincidência estava escrevendo sobre a solidão que pode ser nada mais do que o resultado do egoísmo. Coloquei um link para cá. Valeu.

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  2. Gostei deste blog.

    Também tenho um sobre o assunto.

    Valeu.

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  3. Se puder visite o meu...

    Estou no dihitt e no uol k

    robertogarighan.zip.net


    abraços

    meu blog é O DESPERTAR

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  4. Oi, Claudinho

    Tem razão quando relaciona o egoísmo com a solidão, pois aqueles acabam, muitas vezes, sozinhos. Recolhemos sempre os resultados da nossa sementeira.

    Ainda bem que lhe pude ser útil.
    Volte sempre.

    Garighan:
    Claro que vou visitá-lo.

    Um abraço aos dois

    Joana

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