sexta-feira, 23 de junho de 2017

Um amigo do Kosovo (3) - CONTINUA


Espírito - Sobre a vingança.
Doutrinador - Exactamente...
Espírito - Sobre o meu caso!...
Doutrinador - Exactamente. E sabes o que dizia a lição?
Espírito - ...e olha: e destes todos que estão aqui.
Doutrinador - Exactamente. Não estás sozinho.
Espírito - Pois não. Estes também têm coisas a cobrar.
Doutrinador - Todos quantos estão aqui têm razões de queixa. Mas sabes uma coisa, meu amigo? A lição veio-nos trazer precisamente uma elucidação sobre o assunto.
Espírito - Que é isso: uma elucidação?
Doutrinador - Veio-nos esclarecer. Porque a lição dizia precisamente que nós não nos devemos vingar.
Espírito - Mas isso é o que diz a lição. Também se eu abrir os livros (que eu nunca li os livros...) se eu abrir os livros também lá encontro que o homem deve ser...
Doutrinador - E tu leste isso no Corão.
Espírito - Mas isso é o livro, não é a vida. Nós somos homens. Temos que defender o que é nosso. Alá também nos manda defender o que é nosso.
Doutrinador - Sim, mas não nos manda vingar. Manda-nos perdoar. Não é verdade, amigo?
Espírito - Não posso perdoar. Foi uma grande injustiça.
Doutrinador - Foi, sim senhor.
Espírito - Eu vejo justiça em Alá. Hoje eu vi justiça em Alá ao ficarmos independentes dos assassinos.
Doutrinador - Foi uma grande injustiça. Mas ouve, amigo...
Espírito - Mas não vejo justiça para aqueles assassinos todos.
Doutrinador - Mas ouve, amigo. Como nós vivemos muitas existências é possível que em existência anterior tu e os teus amigos que aqui se encontram tenham feito coisas semelhantes àquelas que vos foram feitas.
Espírito - Ah, não... eu já ouvi falar. Mas não me lembro disso.
Doutrinador - Mas, certamente, tu gostarias de voltar a encontrar as tuas filhas, os teus familiares, não é verdade?
Espírito - Morreram.
Doutrinador - Não morreram.
Espírito - Ficaram dentro de uma cova, enterradas.
Doutrinador - O corpo ficou lá, mas elas não.
Espírito - Não as tenho encontrado. Nunca mais as vi.
Doutrinador - Sabes por que é que não as tens encontrado?
Espírito - Não sei em que Céu é que se encontram.
Doutrinador - Sabes por que é que não as tens encontrado? Porque tens sempre o teu pensamento fixado no desejo de vingança.
Espírito - Ah, tenho que as vingar para as poder encontrar.
Doutrinador - Não. É o contrário, meu amigo.
Espírito - Não, não. Enquanto os assassinos delas andarem à solta eu não consigo encontrar-lhes o Céu.
Doutrinador - É exactamente o contrário. E nós vamos ver que é assim. Tu crês em Alá, não é verdade?
Espírito - Não se pergunta, porque isso é uma blasfémia.
Doutrinador - Ora bem. Então, em nome de Alá, eu peço: Alá ajuda-nos. Tu nunca nos faltas com o Teu Amor, com a Tua Caridade, com a Esperança no futuro. Sempre estiveste presente entre nós e sempre enviaste os teus profetas para nos auxiliarem, nos esclarecerem, nunca nos deixaste ao abandono. Rogamos-Te que venhas aqui ter connosco. Que nos auxilies. Que nos envies a Tua Luz. Para todos nós. Porque todos nós somos necessitados desse Teu Amor infinito que nunca nos faltou. Nunca descremos de Ti, passando, embora, todas as provações ou todas as misérias. Sabemos que estás aqui presente. E nós reverenciamos-Te e dobramo-nos perante Ti, Senhor. Porque a Tua Luz divina vai descer sobre este ambiente. Vai esclarecer as mentes de todos quantos aqui se encontram, a quem damos um grande abraço e a quem exortamos que abram seus olhos, pois aqui se vão passar milagres. Milagres de Fátima, a quem pedimos também auxílio. E a Ti te rogamos o Teu auxílio, o Teu perdão. Queremos ser auxiliados e também perdoados.

Abri os olhos, amigo. Os milagres acontecem aqui. Por isso fostes aqui trazidos. Amigos que desejais encontrar, que vos esclarecerão da situação e que vos dirão do caminho para Deus. Alá esteja connosco.


Extraído do livro de Eduardo Guerreiro: "Encaminhamento Espiritual - doutrinações" (Ainda não publicado)


sábado, 17 de junho de 2017

Um amigo do Kosovo - continuação (2)


Doutrinador - Mas tu eras de Pristina? Eras da capital? Já não te recordas, não é verdade?
Espírito - Eu só vejo uma cova. E vejo as minhas filhas enterradas. E quando fui acudir-lhes cortaram-me a garganta. (chora)
Doutrinador - E quando é que isso sucedeu, querido amigo?
Espírito - Num dia de grande tristeza para todo aquele povo. Que não fez nada.
Doutrinador - Mas isso já aconteceu há anos, não é verdade?
Espírito - Não sei. Já há algum tempo. Há algum tempo. Nunca mais, desde que eu os descobri. Eu estou um bocadinho confuso... porque andei anestesiado muito tempo, enlouquecido de desespero por não poder fazer nada. Não por mim, mas pelas minhas filhas. A minha mulher... tudo na vala. E eu sem poder fazer nada. Nada fizeram para merecer aquilo. Nada fizeram. Se isto é justiça, não sei... E eu tenho que me vingar. E quando acordei consegui descobrir alguns dos meus assassinos. Não todos. Mas alguns. Em nome de Alá, eles pagarão!
Doutrinador - Mas deixa a Alá fazer justiça. Não faças com as tuas mãos. Porque a justiça acabará sendo sempre feita, amigo.
Espírito - Quando?
Doutrinador - Olha: sabias que nós vivemos muitas existências?
Espírito - Tenho uma ideia.
Doutrinador - E sabias que nós não morremos?
Espírito - Não. Não morremos. Quem acredita em Alá não acredita na morte. O lado de lá é sempre muito melhor do que o lado de cá. Só que eu não consigo. Não consigo enquanto não me vingar. Enquanto não destruir aqueles assassinos não consigo ter paz. Não consigo ver o céu. Não consigo libertar-me.
Doutrinador - E não acreditas na justiça de Alá?
Espírito - Ela existe. Só que eles até agora vivem bem. Ainda não vi com os meus olhos a justiça a ser-lhes aplicada. Nada lhes fizeram.
Doutrinador - Mas deixa a Alá aplicar-lhes a justiça. Não te preocupes tu. Deixa a Alá essa tarefa.
Espírito - Mas quando?
Doutrinador - Não te preocupes quando. Preocupa-te é contigo neste momento. Neste momento não sabes onde estás. Mas eu informo-te. Estamos aqui em reunião. E a reunião é em nome do Deus de todos nós.
Espírito - Nunca assisti a uma reunião destas.
Doutrinador - Mas assististe hoje. Em nome de Alá, em nome de Buda, em nome de Jeová... em nome...
Espírito - Esse não conheço...
Doutrinador - Não interessa. É em nome do Deus de todos nós. Porque é único. Nós pertencemos a uma mesma família: a Humanidade. E é em nome dessa família que é a Humanidade que o Deus de todos nós está aqui presente. E que tu estás aqui nesta reunião connosco. Mas não estás sozinho. Tu estás no mundo espiritual e já reconheceste isso.
Espírito - Eu estou. Mas como é que eu vim aqui parar?
Doutrinador - Trouxeram-te aqui, amigo. Amigos teus trouxeram-te aqui.
Espírito - Como?
Doutrinador - Já vais ver. Neste momento estás a falar comigo, que ainda vivo na Terra.
Espírito - Eu sei.
Doutrinador - Tu estás a falar através de uma médium, que é uma pessoa...
Espírito - Isso nunca fiz...
Doutrinador - Que é uma pessoa através da qual tu estás falando...
Espírito - Eu não sabia que se podia comunicar...
Doutrinador - Podes. Tu nunca ouviste que os profetas se comunicavam?
Espírito - Mas isso são os profetas! E falam na Terra.
Doutrinador - Ora bem. E eu estou na Terra. E estou a ouvir tu a falares.
Espírito - Mas eu, como é que falo, se eu já estou morto?
Doutrinador - Não estás morto, amigo.
Espírito - Eu não estou morto. Mas estou morto. Estou enterrado.
Doutrinador - O corpo é que está morto.
Espírito - O corpo está morto. Como é que eu estou falando?
Doutrinador - Estás falando através de uma médium...
Espírito - É que no mundo espiritual não se fala....
Doutrinador - ...controlando as cordas vocais...
Espírito - Nós não falamos. Gritamos, sim! Gritamos com dores, mas não falamos.
Doutrinador - Mas aqui, neste momento, até já te sentes melhor. Confessa.
Espírito - Parece que me dói um pouco menos a garganta.
Doutrinador - Exactamente. E além disso, para confirmares que estás a falar...
Espírito - Mas isto fica-se aqui um bocadinho mole.
Doutrinador - Fica-se.
Espírito - Amolece-se.
Doutrinador - É natural. É uma pequena anestesia que é dada por uma razão muito simples...
Espírito - Mas eu não quero ser anestesiado. Quero-me vingar. Eu preciso de forças para me vingar.
Doutrinador - Não, amigo. Como é que pensas que vão passar as tuas dores?
Espírito - Não sei.
Doutrinador - Tu tens que ser um pouquinho anestesiado dessas dores que tens sentido... Mas deixemos isso. Lembras-te quais foram os temas da lição?

quinta-feira, 8 de junho de 2017

A importância do perdão

Um amigo do Kosovo (1)

Na noite de 17 para 18 de Fevereiro de 2008 manifestou-se uma entidade em sofrimento dizendo-se originária do Kosovo, que nesse mesmo dia havia declarado unilateralmente a independência. Os seus habitantes, na maioria albaneses, de religião muçulmana, comemoravam o evento, o que permitiu desanuviar um pouco o ambiente espiritual e realizar o trabalho que se desenrolou em nosso grupo mediúnico.

Este amigo viu a sua família ser assassinada e a sua casa destruída. O ódio aos responsáveis pelos crimes não o largou, pelo que permaneceu com as sensações de sofrimento que o acompanharam na morte do corpo físico. Tal como noutros casos já relatados, a recusa do perdão agravava o prolongamento da situação.

Como sabemos que nada acontece por acaso, este nosso irmão, certamente, resgatou débitos anteriores.

O esclarecimento que o Espírito Orientador dos trabalhos nos presta no final é precioso. Entre outras coisas, diz: “Muitas reencarnações por fazer, de um e de outro lado, até compreenderem que nada de importante os separa a não ser uma cultura, provisória, porque é terrena, e que o céu dos muçulmanos é o céu dos cristãos, é o céu dos budistas, é o céu dos hinduístas, é o céu dos taoistas, é o céu de todos nós”.

Na realidade, em próximas reencarnações estes personagens voltarão, de novo, a reencontrar-se, para novos reajustes, até atingirem o equilíbrio e harmonia que deverão pautar as relações entre todos. Trocarão, eventualmente, de lugar, pois, o que está aqui em causa são as qualidades morais dos intervenientes – a tolerância mútua, a compreensão, a aceitação da diferença, a amizade sincera, o altruísmo… Desaparecerão o espírito de seita, o dogmatismo fanático, o facciosismo e a intransigência.

O diálogo que a seguir transcrevemos foi travado com um companheiro muçulmano, arreigado na fé islâmica, nos seus dogmas e nas raízes culturais do seu povo.
No final, temos os esclarecimentos preciosos do Espírito Orientador deste trabalho.


O diálogo:

Espírito - Como é que eu vim aqui parar?
Doutrinador - Qual é a tua terra, amigo?
Espírito - Eu sou do Kosovo. Agora é um país! E estava feliz. Andava a festejar na rua.
Doutrinador - Então e o que sucedeu, amigo?
Espírito - Não sei... Ah! Fui à Sérvia, a seguir.
Doutrinador - A seguir aos festejos...?
Espírito - Sim.
Doutrinador - E o que é que lá foste fazer?
Espírito - Fui dar uns bons murros.
Doutrinador - Nas pessoas que lá andavam?
Espírito - Sim. Naqueles assassinos. Não são pessoas. São assassinos.
Doutrinador - E passaste a fronteira?
Espírito - Passei.
Doutrinador - Mas por que razão é que foste, se estavas a comemorar na tua terra?
Espírito - Porque não me esqueço. É um dia feliz, mas é um dia... de grande tristeza para mim...
Doutrinador - Pois é, amigo. E foste para lá para te vingares daqueles que lá se encontravam...
Espírito - Bem merecem. Não tenho feito outra coisa, que é andar de roda deles. Já descobri alguns dos meus assassinos e de toda a minha família (tosse). Não os largo nunca. Só saí para festejar.
Doutrinador -E depois voltaste novamente.
Espírito - E agora não percebo por que é que estou aqui (tosse). E nem percebi nada do que falaram. Nem sei quem é Deus.
Doutrinador - Deus é Alá, como lhe chamas.
Espírito - Ah! É o Deus dos sérvios, dos assassinos.
Doutrinador - O Deus é o mesmo para toda a gente.
Espírito - Não. O meu é Alá.
Doutrinador - Exactamente. É Alá. Nós orámos a Alá.
Espírito - Não. Eu não percebi nada do perdão e dessas coisas, porque quem mata deve morrer também.
Doutrinador - Mas onde é que viste isso escrito, amigo?
Espírito - É assim que nós somos. Nós não fazemos mal. Mas temos que nos vingar. Fazer justiça!
Doutrinador - Com as próprias mãos?
Espírito - Pois se ninguém faz!
Doutrinador - Não acreditas em Alá?
Espírito - E tu acreditarias se vivesses os horrores que nós vivemos? Há visões que nunca desaparecem, para além da morte. A morte é o mínimo. Tudo aquilo que observas com os teus olhos.


(Continua)

Extraído do livro de Eduardo Guerreiro: "Encaminhamento Espiritual - doutrinações" (Ainda não publicado)

Encaminhamento Espiritual - doutrinações