Consciência culpada e autopunição
No
dia 21 de Julho de 2005 manifestou-se em nossa reunião de auxílio uma entidade
em grande sofrimento. Apenas gemia, sendo impossível estabelecer qualquer
diálogo com ela. O doutrinador
solicitou a todos os elementos do grupo vibrações de muito Amor e muita Luz
sobre este nosso irmão.
Passados
alguns minutos em concentração este companheiro, que manifestava ao mesmo tempo
muito medo e receio, disse algumas palavras. O diálogo estabelecido entre ele e
o doutrinador mostra quanto o orgulho
nos pode perder.
Os
esclarecimentos prestados no final pelo Espírito Orientador sobre a presente
situação permitem-nos tirar importantes ilações.
Interessante,
também, a resposta a uma dúvida colocada no final sobre o desprendimento
durante o sono experimentado por um dos elementos do grupo mediúnico.
Doutrinador:
Nada receies. Nada temas. Estamos aqui numa casa de oração. É uma casa de
Jesus, uma casa de Deus. O que sentes, querido amigo?
Espírito:
Não sei explicar...
Doutrinador:
Tens medo?
Espírito:
Eu sofro muito. Sofro muito.
Doutrinador:
Onde é que te dói?
Espírito:
Aqui.
Doutrinador:
No braço?
Espírito:
Sim. Feriram-me no braço.
Doutrinador:
Então tens receio de que te toquem no braço. Tens aqui médicos e enfermeiros
para te ajudarem.
Espírito:
Eu fui o culpado.
Doutrinador:
Não interessa quem foi o culpado. O que interessa é que estão aqui médicos e
enfermeiros para te ajudarem.
Espírito:
Perseguem-me.
Doutrinador:
Ninguém te vai perseguir.
Espírito:
Perseguem-me sempre.
Doutrinador:
Mas não aqui. Aqui não está ninguém a perseguir-te.
Espírito:
Aqui não está ninguém.
Doutrinador:
Nesse aspecto podes estar descansado. Mas está aqui alguém. Estão médicos.
Estão enfermeiros, para te ajudarem.
Espírito:
Se eles me recompusessem o braço eu não sofria tanto.
Doutrinador:
Eles estão a recompor-te o braço. E não vais sofrer tanto, pelo contrário.
Aliás, já te estás sentindo mais aliviado.
[A entidade respira fundo,
sentindo-se melhor...]
Espírito:
Eu não mereço. Eu matei um homem.
Doutrinador:
Amigo, todos nós errámos, mais ou menos. Portanto não é isso que deve neste
momento preocupar-te. Estás arrependido?
Espírito:
Estou muito. Tenho sofrido muito.
Doutrinador:
Ora bem... Sabes? Desde que nós nos arrependamos, Deus, que é infinitamente
misericordioso concede-nos o perdão e a misericórdia e é isso que está neste
momento sucedendo.
Espírito:
Só Deus me pode perdoar.
Doutrinador:
E Deus perdoa-te. Deixa estar, porque Deus perdoa-te, porque tu, de facto,
reconheces que não procedeste bem e Deus perdoa-te, por isso estás sendo
auxiliado.
[A entidade continua a respirar
fundo, como que para ganhar forças]
Doutrinador:
Agora descreve lá o que é que estás vendo aqui à tua volta.
Espírito:
Estão-me a ligar o braço. Ai... dói-me tanto. Dão-me picadas. Ai... eu não
quero que me toquem. Tenho medo. Eu tenho medo que me toquem.
Doutrinador:
Não tenhas medo, querido amigo. Estão a tratar de ti. Pensamento em Deus. Eu
vou orar por ti. Se quiseres podes acompanhar-me.
[O doutrinador ora a Deus, pedindo
por este nosso companheiro para que ele possa ser auxiliado neste posto de
socorro].
Espírito:
Eu não quero ser levado para outro sítio. Quero ficar mesmo aqui.
Doutrinador:
Porquê, querido amigo?
Espírito:
Não. Não quero ir para longe.
Doutrinador:
Pergunta lá a estes amigos como é que é o sítio para onde te vão levar.
Espírito:
É um sítio onde só há gente em tratamento e eu sou um criminoso... Não posso
ver gente... Não quero ver ninguém. Pois, mas é que eu pedi! Eu pedi isto tudo!
Tenho que pagar isto tudo! É cedo para me poder perdoar! Eu tenho que pagar! Eu
matei para ficar com a mulher do meu inimigo! Eu não posso perdoar! (...) E o
meu braço é a marca desse crime que cometi. Perdi a minha honra!
Ele
já me perdoou? Não pode ser. Eu roubei-lhe a esposa. Como pode perdoar-me? E
tirei-lhe a vida! Como pode perdoar uma coisa assim?! Não posso... Não pode
ser! Eu, vê-lo? Eu morro de vergonha de o encarar. Ele quer ver-me?! Como é que
ele pode? Como pode? É muito, muitíssimo melhor do que eu! Ainda sinto mais
vergonha pelo acto que cometi! Eu... que em vida nunca poria sequer a hipótese!
Eu, barão...! Sim... Rotwild. (?) Barão de Rotwild!
Eu
jamais baixei a minha cabeça, andei sempre erguido, imponente perante tudo e
todos!... Onde isso já vai! Eu vou-me ajoelhar a seus pés e vou pedir perdão.
Coisa inadmissível quando vivia essa vida de riqueza e de títulos nobres que
nos cegam. O orgulho que mata! Imbecilidade, que destrói e corrói a alma
daqueles que caem nessa armadilha. Eu ajoelhar-me-ei, sim. Não vou hesitar um
segundo. Se esse homem me perdoa é o mínimo que eu posso fazer! Eu vou! Vou,
sim! Chega de sofrer!
Doutrinador:
Acabas de tomar uma boa resolução, querido amigo. É a resolução que agrada a
Deus.
Espírito:
Tenho que reparar as minhas faltas. Começo a reparar após ter pedido perdão de
joelhos a quem matei.
Doutrinador:
Tu saberás melhor do que ninguém aquilo que deves fazer, com uma certeza:
aquilo que fizeres de coração para o Bem agradará ao Pai, que tudo vê e a tudo
provê, incluindo a sua infinita misericórdia. Querido amigo: vai, então, porque
esse é o maior acto de coragem que tu demonstras e essa coragem vale mil vezes
mais do que aquela que se fundamenta no orgulho. Essa é a coragem da Humildade.
Sim, porque para ser humilde é necessário ser-se corajoso. Damos-te todos os
parabéns, meu amigo, pela boa resolução que acabas de tomar e nós ficámos
extraordinariamente contentes com o teu acto.
Espírito:
Não me dês assim tantos méritos... Apenas o sofrimento me leva a tomar essa
decisão.
Doutrinador:
O sofrimento é a mola que nos impulsiona a todos ou a quase todos.
Espírito:
Assim o soubéssemos, antecipadamente. Evitaríamos tantos desastres!
Doutrinador:
Exactamente, querido amigo.
Espírito:
Para a nossa consciência.
Doutrinador:
Exactamente, querido amigo.
Espírito:
Eu vos agradeço pela ajuda.
Doutrinador:
E nós pedimos a Deus por ti, querido amigo.
Espírito:
Bem preciso de vossas preces.
Doutrinador:
E nós começamos agora mesmo, rogando a Deus por ti.
[O doutrinador ora a Deus por este
nosso irmão, pedindo por sua recuperação]
Doutrinador:
Que Deus esteja contigo, te abençoe e te acompanhe, querido amigo.
Espírito:
Obrigado.
[A entidade ainda
permanece alguns instantes ligada à médium; o doutrinador ora, novamente a Deus
e a Jesus, agradecendo as bênçãos recebidas. Todos os membros do grupo
continuam concentrados. Passados alguns momentos manifesta-se o Guia Espiritual
orientador destes trabalhos]
Extraído do livro de Eduardo Guerreiro: "Falando com os Espíritos" (em fase de publicação)
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