sábado, 20 de outubro de 2007

Livre Arbítrio

Tenho recebido na minha caixa de correio várias questões, semelhantes no seu teor, às que a Maria João Cunha colocou no seu comentário do post:"Responsabilidade do Grupo Mediúnico" do dia 12 de Outubro.

Assim, decidi responder-lhe neste post, de forma a atender a todos, relativamente a um assunto que tantas dúvidas nos suscita ao longo da nossa caminhada.


Cara Maria João:

Em primeiro lugar quero pedir-lhe desculpa pelo atraso na resposta, apenas justificada pelo excesso de trabalho.

1º - Começo pela sua frase “não pedi para nascer”.

O processo da reencarnação é complexo e, a maior ou menor intervenção do espírito reencarnante no mesmo, depende do grau evolutivo deste. Contudo existem as reencarnações compulsórias em que, de facto, o espírito que vai reencarnar "não pede para nascer" – é obrigado a reencarnar, para seu bem, em termos de evolução espiritual.

2º - Não é meu o conteúdo da afirmação "As tarefas mais importantes já foram escolhidas anteriormente ou, então, escolhemos a meio de outras tarefas ou no seguimento de outras que acabam sendo realizadas...". O conteúdo desta afirmação é do espírito comunicante, que se identificou como "Casimiro".

Estamos completamente de acordo com esta afirmação. O velho ditado popular "o casamento e a mortalha no céu se talha" tem a sua razão de ser: as linhas mestras da nossa existência no corpo físico já foram delineadas antes do nosso renascimento. O seu cumprimento em maior ou menor grau depende de nós.

Os "completistas" no dizer de André Luiz, isto é, os espíritos que completam com êxito as tarefas a que se comprometeram antes de reencarnar, são raros. Todos nós falhamos em maior ou menor grau. Porquê?

Todos nós possuímos o nosso livre arbítrio que nos permite tomar as decisões correctas ou menos correctas.

Contudo, apesar do nosso livre arbítrio e sendo o determinismo em nossas existências, relativo, existem, contudo, algumas situações às quais não conseguimos fugir e que nos surgem, quer queiramos, quer não.

Porventura, algumas delas foram por nós escolhidas antes de reencarnarmos.
Situações que se situam no eixo das linhas mestras da nossa existência.

3º O espírito, presumimos que evoluído, pois, como se disse atrás, só um espírito evoluído interfere em maior grau no projecto de sua futura existência, raramente se esquece do projecto anteriormente delineado e no qual colaborou activamente. Do mesmo modo, o espírito que aceitou um projecto de vida tem gravado em seu íntimo esse mesmo projecto.

O esquecimento próprio da imersão na vida corpórea não impede que a sua intuição lhe indique o melhor caminho. Por vezes, muitas vezes, este espírito, se mal preparado, "esquece"os compromissos. Porque tem livre arbítrio para tomar as suas próprias decisões enquanto reencarnado.

Pode ser acompanhado pelo remorso mesmo durante a existência física mas, certamente, este remorso será muito mais acutilante depois de desencarnar, quando retornar à vida espiritual, a verdadeira vida, e constatar que falhou.

4º Embora em linhas gerais e nos aspectos mais importantes, em termos espirituais, a nossa existência tenha sido traçada antes do reencarne, isso não impede que por decisão superior, com ou sem o nosso concurso, ou por exclusiva decisão nossa, haja alterações.

Por exemplo, a espiritualidade superior pode conceder uma moratória para o desencarne de determinado espírito quando, por necessidades evolutivas individuais ou de grupo, tal se revele útil.

Recordo-me, por exemplo, do caso de Jerónimo Mendonça que, na sua provação de cego e paralítico e, simultaneamente, difusor da doutrina espírita, a espiritualidade lhe perguntou em determinada altura se ele queria desencarnar ou continuar.

Apesar de todas as restrições e sofrimento, ele escolheu continuar e levou as provações até ao final com alegria...

Existem, igualmente, decisões, positivas ou negativas, por nós tomadas em desprendimento nocturno, durante o sono (tal como, também no estado de vigília).

Recordo-me, por exemplo, de um relato feito pelo espírito de Camilo Castelo Branco no livro "Memórias de um suicida", psicografado por Yvonne Pereira, em que ele descreve os esforços da espiritualidade para recrutar alguns médiuns para o auxílio a suicidas.

Depois de contactados médiuns nos países da América Latina, em Espanha e Portugal, só dez aceitaram e destes, só duas senhoras o fizeram por amor incondicional; os restantes fizeram-no apenas por compromisso.

E isto apesar de, a todos os contactados, ser garantida toda a assistência necessária decorrente dos transtornos surgidos, na sequência do auxílio a tais entidades tão desequilibradas...

5º Em resumo podemos dizer que, em traços gerais, nossa existência foi, de facto, delineada antes da reencarnação, com maior ou menor participação nossa, de acordo com o nosso grau evolutivo, o que deixa "espaço de manobra" bastante suficiente para que o nosso livre arbítrio se revele em toda a sua plenitude.

Decorrentes do nosso livre arbítrio estão as decisões do dia-a-dia quer sejam tomadas no estado de vigília, quer durante o sono, vão elas no bom sentido ou no sentido inverso.

Não sei se consegui responder satisfatoriamente à amiga Maria João e a todos os que me interrogaram. Creio ter dado a minha opinião fundamentada na Doutrina Espírita, nas obras complementares e na experiência pessoal.

2 comentários:

  1. Agradeço a atenção e a resposta dada, foi muito esclarecedora.

    Não tinha pensado na importancia do esquecimento para não limitar as escolhas de vida, o livre arbitrio.

    No entanto, verificamos que há individuos manipuladores que exercem pressão e controlo sobre
    as opções dos outros.

    É possivel alguém nos controlar a vida, mesmo sem recorrer a bruxarias, através do pensamento?

    Mais uma vez agradeço a vossa atenção.

    Maria João Cunha

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  2. Claro que é possível e bem frequente, pois não vivemos isolados e o meio em que vivemos nos faz influenciar ou ser
    influenciados pelos que connosco convivem; pela lei das afinidades, sempre nos aproximamos dos que nos merecem simpatia ou repelimos aqueles que não compartilham dos mesmos interesses ou modos de pensar e agir.

    Assim, muitas vezes, surgem os conflitos, rancores, desejos de vingança… sentimentos que quando expressos repetitivamente, se convertem em autênticos fluidos venenosos emitidos em desfavor do outro. Esse os receberá, caso se encontre na mesma sintonia.

    Daí que Jesus nos tenha aconselhado o “Orai e Vigiai”.
    Em vez de reagirmos a todas as influências negativas, aprendamos a agir com serenidade, sabendo desculpar e seguir em frente confiantes em nós e na ajuda divina que não nos faltará.

    Como diz Joanna de Ângelis:

    “Para que os Espíritos da Luz se afinem contigo é imprescindível movimentes os recursos do vaso orgânico, renovando conceitos e atitudes em torno do uso, em todos os teus dias na Terra.”

    Recordo-me duma reunião mediúnica do “Grupo Amigo Amén”, em que uns pais “demasiado controladores”, obtiveram o concurso doutro familiar já desencarnado para influenciar a filha adulta nas suas opções de vida.
    A sua questão leva-me a colocá-la no próximo post. Esteja atenta, Maria João.

    Muita Paz
    Joana

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