sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Segurança emocional: Instituições ou família adoptiva?

Amanhã termina a blogagem colectiva sobre a Adopção, promovida pelo blog da Geórgia http://saia-justa-georgia.blogspot.com e do Décio http://gk. jaegger.blog.uol.com.br/
Deixo os meus parabéns aos dois pela excelente ideia.
Aqui fica mais uma pequena contribuição sobre um assunto que tanto interessa às crianças e à própria sociedade.
Há algumas instituições que funcionam razoavelmente, tentando proporcionar condições à criança afim de colmatar a ausência da família.
Apesar disso, a institucionalização não transmite à criança a segurança e confiança que ela necessita para explorar o mundo e se tornar autónoma. O funcionamento institucional não permite a prestação contínua de cuidados, factor essencial para um desenvolvimento harmonioso da criança. Esta recebe atenção, mas nunca em quantidade suficiente para preencher as suas necessidades afectivas.

TESTEMUNHOS

O medo de ser abandonada


A minha mãe deixou-me em casa de um senhor e nunca mais me procurou. Já nem me lembro da cara dela nem da sua voz.
Devia estar muito zangada comigo para não me vir buscar!
O meu pai... bom, nunca conheci o meu pai; não sei se é grande ou pequeno, gordo ou magro nem se gosta de mim.
Sentia-me zangada com tudo isto! O que foi que eu fiz? Alguma coisa devia ter feito, ou não me teriam mandado para esta casa.
Chegava a bater em mim própria, sem saber como reagir ao que me estava a acontecer.
Na Ajuda de Berço encontrei carinho, cama, comida, roupa, meninos da minha idade com quem brincar; aqui podia tomar banho e aprender coisas novas... Mas viver numa casa como esta implica conviver com muitas pessoas, e nenhuma delas é só para mim.
Havia alguém especial, mas todos os dias essa pessoa tinha de se ir embora e é como se um pouco de mim fosse com ela. E eu tinha medo que essa pessoa não voltasse nunca mais, tal como aconteceu com a minha mãe. Sentia-me muito triste. E gritava com os outros, batia-lhes. Quando essa
pessoa chegava só queria estar perto dela, o dia todo se pudesse ser!
Até que chegou o dia em que apareceu alguém que estava pronto para ficar sempre comigo! Pelo menos, era o que eles diziam... Estava com tanto medo que não gostassem de mim, que acabei por me portar ainda pior e desistiram de mim, logo no terceiro dia que passámos juntos... Não percebia nada do que se estava a passar, mas sentia que não valia mais a pena. Outros meninos que estavam comigo reagiam de maneira diferente. Choravam baixinho, brincavam sozinhos, pediam colo, pediam a chucha...
Eu não! Eu chorava só para dentro e fingia que não era nada comigo.
Passaram alguns meses... Amanhã vem cá um casal para me conhecer. Será que eles querem ser os meus pais? Eu queria tanto ter uma mãe e um pai só meus. Alguém que goste verdadeiramente de mim! Estou muito nervosa... E se estes também se vão embora? Não vou aguentar...
Depois de tantas desilusões, tenho medo de acreditar. Vou espernear, gritar, fazer-me de forte e fingir que não gosto deles. Parece menos doloroso se for eu a decidir que não vai resultar.
Não quero voltar a ver aqueles olhares de pena, culpa, remorso ou lá o que for.
Preciso que acreditem que vai tudo correr bem.
Preciso de colo e de atenção, preciso que me falem baixinho, que me embalem, preciso de ouvir dizer muitas vezes que gostam de mim.
Preciso que ralhem comigo quando me portar mal. Mas mesmo nessas alturas, que digam que gostam de mim. Quero voltar a acreditar!
Se me provarem que me aceitam como eu sou, que é mesmo a sério e para sempre, EU CONSIGO!

A criança de que falamos encontra-se com a sua (nova) família há cerca de 14 meses. Encontrou alguém que a tem ajudado a reparar as feridas e a acreditar no futuro. Já pode “baixar” as defesas que desenvolveu com medo de ser novamente abandonada e dar-se a conhecer ao mundo.
E é tanto o que tem para dar!!!

http://www.ajudadeberco.pt/pdf/olhe2.pdf

Uma Família sem medos nem preconceitos:

"A NOSSA VIDA MUDOU RADICALMENTE"

Maria Emília e Carlos Soares estão casados há 12 anos e não podem ter filhos. Há cerca de um ano resolveram avançar para a adopção. Numa unidade de emergência infantil, na zona do Porto, encontraram dois meninos, gémeos, com quatro anos. Só que, um deles tem deficiência auditiva profunda.
Logo que começaram a contactar com os meninos, confrontaram-se com uma "incrível vontade" de os levar para casa. E assim fizeram. Só que o menino portador de deficiência, que exige cuidados especiais, teve de voltar à instituição por mais seis meses. Agora estão os dois com os pais adoptivos.
"A nossa vida mudou radicalmente", disse Maria Emília, realçando que agora percebe "porque é que as pessoas, por norma, rejeitam estes meninos". No entanto, afirma que "o amor compensa todos os sacrifícios".
Correio da Manhã

10 Novembro 2008

4 comentários:

  1. Imagine-se, Joana, uma criança que olha um adulto e o vê na proporção de um gigante. Quase um homem para um orangotango. A diferença de linguagem é quase a mesma. A criança dele quer se proteger. É o medo inicial, daí a necessidade da meiguice, do carinho e do sorriso, o grande comunicador. Ganha-se o pequerrucho e comunicam-se os anjos. Daí o colo, atenção,o falar baixinho, o embalo e a necessidade da reafirmação do gostar do pequeno ser que vc colocou muito bem. Muito obrigado mais uma vez, vc é uma das pessoas que soube fazer a diferença. Boa fim de semana. Um abração

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  2. Joana, muito obrigada por mais uma participacao sua.

    Esse primeiro relato da menina e de nos partir o coracao, nao?
    Tantos medos, tanta escuridao dentro de si que ela nem consegue ver a luz que chega.
    Essas crianacas precisam de muito amor. Gracas a Deus que ela achou essa família que a está sabendo amá-la conforme as necessidades do seu coracao. Porque ela precisa mesmo de muito amor. E que bom que existe pessoas assim como esta família dispostas a aceitá-las como elas sao, como o caso dos dois meninos gêmeos. Somente o Amor pode explicar todas essas atitudes.

    Um grande abraco e obrigada

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  3. Olá amiga... deixei um presente pra ti no blog...

    beijos, obrigada por tudo!

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  4. Oi, estou vindo aqui te avisar que os posts sobre a blogagem coletiva estao todos em um único blog para faciliatr que deseja lê-lo.

    O seu também está lá.

    Entao, dá uma passadinha por lá vê se está tudo bem prá você como tudo ficou por lá com o seu post.

    Aqui o link do blog: http://blog-blogagem.blogspot.com/

    Te desejo um ótimo final de semana.

    Abracos do Dácio e da Georgia

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