sexta-feira, 11 de maio de 2007

Bento XVI, no Brasil, canoniza Frei Galvão

A Morte é o encontro do Homem consigo mesmo e a sua consciência reflecte os resultados do aprendizado realizado durante a sua vida na Terra. A alegria ou a amargura experimentadas após o desencarne, são da inteira responsabilidade de cada um. Tal é a lei.
Hoje, foi declarado Santo, por Bento XVI, Frei António de Sant'Anna Galvão, ou Frei Galvão, nascido em Guaratinguetá, cidade do Vale do Paraíba do Estado de São Paulo.

Hoje, em que o primeiro santo brasileiro entra para a história da Igreja Católica, entre os 6.700 Santos já existentes, veio-me à memória um relato de Humberto de Campos que ele refere como sendo real, omitindo, como é óbvio, nomes identificativos, “por caridade fraternal”. Ficámos a meditar nas consequências para o espírito da nossa ignorância espiritual e nos desenganos das ilusões humanas…

Vale a pena lê-la!

AMARGURAS DE UM SANTO

Encontrava-se Humberto numa roda de amigos espirituais conversando sobre o facto de muitos espíritas, rodearem duma auréola de santidade e infalibilidade, trabalhadores de vulto no movimento, assim que estes desencarnam, quando um dos elementos do grupo, ex-padre católico, intervém:
“…Em minhas experiências nas esferas mais próximas do Planeta, sempre reconheci que os Espíritos mais homenageados na Terra são os que mais sofrem, em virtude da pouca prudência dos seus amigos. Aliás, neste particular, temos o exemplo doloroso dos «santos». Sabemos que raros homens canonizados pela igreja humana chegaram, de facto, à montanha alcantilada e luminosa da Virtude. E essas pobres criaturas pagam caro, na Espiritualidade, o incenso perfumoso das gloríolas de um altar terrestre.
A palestra tomava um carácter dos mais interessantes, quando o mesmo amigo perguntou de repente, depois de uma pausa:
- Vocês conhecem a história de São Domingos González?
E enquanto os presentes se entreolhavam mudos, em íntima interrogação, continuou:
- Domingos González era um padre insinuante, dotado de poderosa e aguçada inteligência. Sua carreira sacerdotal, dado o seu carácter flexível, foi um grande vôo para as posições mais importantes e elevadas. Dominava todos os companheiros pelo poder de sua palavra quente e persuasiva, cativava a atenção de todos os seus superiores pela humildade exterior de que dava testemunho, embora a sua vida íntima estivesse cheia de penosos deslizes.
A verdade é que, lá pelos fins do século XV, era ele o Inquisidor-Geral de Aragão; mas, tal foi o seu método condenável de acção no elevado cargo que lhe fora conferido, que, por volta de 1485, os israelitas o assassinaram na catedral de Saragoça, em momento de sagradas celebrações.

O nosso biografado acordou, no além-túmulo, com as suas chagas dolorosas, dentro das terríveis realidades que lhe aguardavam o Espírito imprevidente; mas, os eclesiásticos concordaram em pleitear-lhe um lugar de destaque nos altares humanos e venceram a causa.
Em breve tempo, a memória de Domingos transformava-se no culto de um santo. Mas, aí, agravaram-se, no plano invisível, os tormentos daquela alma desventurada. Envergonhado e oprimido, o ex-padre influente do mundo sentia-se qual mendigo faminto e coberto de pústulas. Nós, porém, sabemos que as recordações pesadas do Planeta são como forças invencíveis que nos prendem à superfície da Terra, e o infeliz companheiro foi obrigado a comparecer, embora invisível aos olhos mortais, a todas as cerimónias religiosas que se verificaram na instituição de seu culto. Domingos González, assombrado com as acusações da própria consciência, assistiu a todas as solenidades da sua canonização, sentindo-se o mais desgraçado dos seres. As pompas do acontecimento eram como espadas intangíveis que lhe atravessassem, de lado a lado, o coração vencido e sofredor. Os cânticos de glorificação terrena ecoavam-lhe no íntimo como soluços da sombra e da amargura.

E, desde essa hora, intensificaram-se-lhe os padecimentos.
Sua angústia agravou-se, primeiramente, em virtude da nova posição do círculo familiar. Os que lhe eram afins pelo sangue entenderam que não mais deviam o tributo comum de trabalho e realização ao mundo. Como parentes de um santo, não mais quiseram trabalhar. E essa atitude se estendeu aos seus mais antigos companheiros de comunidade. Os poucos valores da agremiação religiosa, a que pertencera, desapareceram. Seus colegas de esforço estacionaram voluntariamente na preguiça criminosa e no hábito das homenagens sucessivas. O grupo havia produzido um santo: devia ser o bastante para garantia de uma posição definitiva no Céu.
O Espírito infeliz contemplava semelhante situação, banhado em lágrimas expiatórias. E o seu martírio continuou.
Sabemos que um apelo da Terra é recebido em nosso meio, tão logo seja expedido por um coração que se debata nas lutas redentoras do mundo. Se o serviço postal do orbe pode estar sujeito aos erros de administração, ou à má-vontade de um estafeta, desviando do seu destino uma mensagem, no plano espiritual não se verificam semelhantes perturbações. A solicitação justa ou injusta dos homens vem ter connosco pelos fios do pensamento, na divina claridade do magnetismo universal. E Domingos começou a receber os pedidos mais imprudentes dos seus numerosos devotos.
A alma desventurada ficou absolutamente presa à Terra e, de instante a instante, era obrigada a atender aos apelos mais extravagantes e mais absurdos.
Se um criminoso desejava fugir à acção da justiça no mundo, valia-se de Domingos, invocando-lhe a memória, entre receios e rogativas. As mães desassisadas, que não cogitaram da educação dos filhos, em pequeninos, lhe rogavam de joelhos a correcção tardia desses filhos transviados em maus caminhos. Os velhacos lhe faziam promessas, a fim de realizarem um bom negócio." As moças casadouras lhe imploravam a aliança do noivo rebelde e arredio. Os sacerdotes pediam-lhe a atenção dos superiores. E, finalmente, todos os sofredores sem consciência lhe suplicavam o afastamento da cruz de provações que lhes era indispensável.
Chumbado ao mundo, Domingos, durante mais de um século, perambulou pelas casas dos devotos, pelas estradas desertas, pelos círculos de negócios, pelos covis dos bandidos.
Seu aspecto fazia pena.
Foi quando, então, dirigiu a Jesus a súplica mais fervorosa de sua vida espiritual, implorando que lhe permitisse voltar à Terra, a fim de esconder no esquecimento da carne as suas enormes desditas. Queria fugir do plano invisível, detestava o título de santo, aborrecia todas as homenagens, atormentava-o o altar do mundo. Suas lágrimas eram amargas e comovedoras, e o Senhor, como sempre, não lhe faltou com a bondade infinita.
Assim como um grupo de amigos influentes procura colocação para o homem desempregado e aflito no mundo, alguns companheiros dedicados vieram oferecer ao pobre Espírito sofredor uma reencarnação como escravo, no Brasil.
Domingos González ficou radiante. Chorou de júbilo, de agradecimento a Jesus e, em breve tempo, tomava a vestimenta escura dos cativos, sentindo-se ditoso e confortado, cheio de alegria e reconhecimento.
O nosso amigo fizera uma pausa na sua narrativa. Estávamos, porém, altamente interessados e eu perguntei:
- E o santo está hoje nos planos mais elevados da Espiritualidade? Seria extremamente curiosa a palavra directa de sua desilusão e de sua experiência valiosa...
- Não, ainda não - replicou o narrador, com ar discreto. - Domingos tem vivido sucessivamente no Brasil e; ainda hoje, continua, aí, a esforçar-se pela sua redenção espiritual, guardando instintivamente o mais terrível receio de chegar às esferas invisíveis com o título de santidade.
Mas, as obrigações comuns dispersaram o grupo em palestra e, dentro de pouco tempo, estava eu novamente só, com o meu trabalho e com a minha meditação. E nesse dia, impressionado com a história daquela amarga experiência, não pude retirar da imaginação aquele santo que trocara os incensos do altar pela atmosfera nauseante de uma senzala do cativeiro."
Humberto de Campos
in "Reportagens de Além-Túmulo", psicografia de Francisco Cândido Xavier


1 comentário:

  1. Na nossa reunião mediúnica de 9 de Maio de 2007, após o auxílio a uma entidade em grande sofrimento, que foi encaminhada adormecida e deixou penosas impressões na médium que a recebeu, recebemos uma mensagem de Espírito amigo, que orientou a reunião.
    Decidimos enviar-lhe esta mensagem pois este amigo espiritual faz referência à Caridade, que não depende do número de quilómetros que percorremos a pé. Um alerta para todos os peregrinos que, aos milhares, demandam a pé o Santuário de Fátima, iniciando a viagem muitos dias antes, para aí se reunirem nos dias 12 e 13 de Maio, data das primeiras aparições da Virgem aos pastorinhos.

    Espírito: Boa noite meus amigos.

    Doutrinador: Boa noite, querido amigo.

    Espírito: Caridade é o lema mais sublime que deve guiar nossos passos, independentemente das nossas crenças, das igrejas que frequentemos, dos hábitos que cultivemos, pois Jesus nos veio ensinar a amarmo-nos uns aos outros. A Caridade praticada diariamente nos conduz directamente à sua presença e Ele não nos questionará sobre o Deus que adorámos, sobre o culto que professámos ou que praticámos, sobre se nos colocámos de joelhos ou percorremos muitos quilómetros a pé. Apenas nos indagará sobre aquilo que fizemos a nossos irmãos. Ele nos deixou a sua mais importante mensagem no seu livro vivo quando percorreu os lugares na Terra, ensinando aos homens, desde os de boa vontade, os que melhor o entendiam, porque já conheciam a sua mensagem desde tempos idos, aos maiores criminosos, aos que caíram no erro sistemático, aos que praticavam a maldade e a guerra e a hipocrisia, clamando por Deus, batendo em seus peitos, fingindo adorá-Lo e respeitá-Lo, cumprindo Sua Lei. Todas as inverdades registadas no Livro Sagrado são erros cometidos pela mão humana, porque a mensagem transmitida ao vivo por Jesus foi directa aos corações e neles se mantém gravada até hoje. Daí ter perdurado e continuado a ser propagada, apesar das perseguições, dos falsos Judas que eu Seu nome proclamam outras verdades, enganando os homens ingénuos, ignorantes e comodistas que nunca assumem o Seu fardo e não Lhe seguem o exemplo, querendo apenas usufruir o prazer das bem-aventuranças do corpo encarnado que destroem prematuramente, e da alma que desprezam e jogam para um lugar escondido de seus lados, não lhe ligando importância, esquecendo-se de cultivar a paz e a harmonia, de educar os que têm à sua responsabilidade, de amar e ser felizes, mas felizes no bem que praticam ou poderiam praticar, felizes no entendimento, felizes na compreensão de seus males actuais pelos erros cometidos no passado, felizes agradecendo a Deus esse sofrimento, porque a evolução continua e porque o seu futuro será melhor, certamente, na aceitação do que na revolta. Felizes, finalmente, praticando a caridade para com todos os que os rodeiam. Caridade que se revela num sorriso, numa mão estendida ou até no silêncio, calando defeitos daquele que caiu e ajudando-o a erguê-lo, perdoando-lhe as ofensas que nos dirigiu ou desculpando essas mesmas faltas que outrora também nós já cometemos.
    Praticai a caridade, meus filhos, todos os dias da vossa vida, sendo tolerantes para com todos, amando, sorrindo, para que possais conquistar o vosso lugar num mundo dos espíritos que trabalham para um dia chegarem a Jesus e que no caminho para Deus que a todos está destinado.
    Que a Paz fique convosco meus filhos, desde humílimo amigo.

    - Quereis deixar vosso nome, amigo.

    - Bezerra.

    - Para nós é uma honra, querido amigo.

    - A honra sempre será minha, meus filhos. A honra de trabalhar pelo Mestre Amigo junto dos homens que para isso se juntam no auxílio aos infelizes, aos doentes, aos sofredores da alma.

    Nota: o espírito de Bezerra de Menezes é, como sabem todos os que conhecem a doutrina Espírita, um espírito da mais elevada hierarquia. De sublinhar que, no mundo os espíritos, a hierarquia é determinada por qualidades já adquiridas. A Humildade é uma delas.
    Como participante na reunião na qualidade de doutrinador e sensitivo cabe-me dizer que este espírito antes de se manifestar nos transmite vibrações que nos fazem sentir que estamos perante um espírito austero, com grande autoridade moral e pelo qual experimentamos grande respeito.

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