terça-feira, 13 de novembro de 2007

A Importância do Perdão

Há algum tempo, conversando amenamente com um amigo sobre a vida e os desafios que enfrentamos no dia-a-dia e que põem à prova a nossa serenidade e o aprendizado que fizemos (ou não) dos ensinamentos cristãos ele confessou-me:

“Sabes?! Li aquele teu artigo sobre o irmão Jacob”.

“E o que achaste?” - perguntei eu.

“Há lá uma parte que veio mesmo ao encontro de uma situação pela qual tenho vindo a passar nos últimos tempos”.

A minha curiosidade levou-me logo a indagar do que se tratava. Por que situação é que ele tinha estado a passar e o que é que tinha a ver com o artigo intitulado ‘Voltei’?!

Então ele contou-me:

“Olha, nos últimos tempos, lá no meu local de trabalho, o relacionamento com o chefe andou muito, mas mesmo muito tenso. Ao ponto de eu lhe desejar, em pensamento, as coisas mais horríveis. A mentalização desse desejo trazia-me satisfação. Sentia que se lhe sucedesse o que eu lhe desejava seria feita justiça.

E imaginava-me a fazer essa mesma justiça pelas minhas próprias mãos. Ele, por sua vez, parece que me adivinhava os pensamentos e o seu relacionamento comigo estava cada vez mais crispado.

Andei torturado, amargurado, com desejos e pensamentos de vingança a perseguir-me. Ao ponto de se tornar uma obsessão constante”.

- “E não seria mesmo uma obsessão?”, indaguei eu. “É que os nossos pensamentos atraem entidades afins, que fazem coro connosco, na mesma sintonia”. “E quando o mesmo pensamento nos martela a cabeça constantemente é de desconfiar...”. “Nessa altura devemos fazer uma pausa, pensarmos bem no assunto que nos preocupa e qual a verdadeira razão para essa sensibilidade exagerada em relação ao mesmo”. “Orar e vigiar, como dizia o Mestre...”. E continuei:

- “Mas afinal o que é que fizeste e por que é que o artigo sobre o irmão Jacob veio ao teu encontro?”

Então ele contou-me:

“O irmão Jacob, em determinada altura é perseguido por um grupo violento de padres desencarnados que o ameaçavam. Ele, Jacob, lembrou-se de orar por eles, orar com sinceridade, do fundo do coração, considerando-os seres infelizes. Aí, eles se afastaram e ele, Jacob, começou a irradiar luz, pela primeira vez desde que havia chegado ao mundo espiritual.

Ora eu fiz o mesmo por aquele irmão que nesta vida transitória é o meu chefe e que me tem feito a vida negra. Orei por ele. Orei por ele com sinceridade, até às lágrimas, desejando-lhe o melhor possível do mundo. Afastei ódios e desejos de vingança e vi nele, com toda a sinceridade, repito, um irmão muito infeliz e muito necessitado. E lembrei-me de que nesta vida as coisas não nos sucedem por mero acaso. Inclusivamente solicitei aos amigos da espiritualidade, se Deus o permitisse, um encontro entre mim e ele durante o desprendimento nocturno, já que a animosidade parecia ser de parte a parte.

No dia seguinte ele dirigiu-se a mim com uma expressão aberta e simpática, coisa que já não acontecia há bastante tempo...”

O que este meu amigo fez, afinal, foi algo que consideramos muito lógico, racional, mas por vezes bastante difícil de realizar, dada a dose de orgulho que ainda nos cega: ele colocou em prática a lição do perdão.

Do artigo ‘Voltei’, voltamos nós agora, mais uma vez, a reproduzir o trecho que inspirou este meu amigo à oração e... ao perdão.

Depois de ter frequentado por mais de duzentos dias a “escola da iluminação”, certa noite, de volta ao lar espiritual, sozinho, foi “assaltado por furioso grupo de clérigos desencarnados” que se acercaram dele “violentos e sarcásticos”. Fizeram-lhe lembrar os ataques que ele, impensadamente, havia desferido contra os padres. Cobriram-no de insultos e ameaçaram-no.

Isolando a mente e lembrando-se dos conselhos do Senhor de “orar pelos que nos perseguem”, Jacob, “tocado por sincero desejo de auxiliá-los”, entregou-se à prece, “não como de outras vezes, em que emitia palavras de louvor e súplica com bases menos profundas no sentimento”, mas no sentido de procurar, de facto, “ser útil àquela falange de entidades inconscientes.

... Decorridos alguns minutos, observei que, ao me contemplarem em oração, os circunstantes se afastaram um tanto, embora continuassem a criticar-me de doestos e zombarias”.

A entrega de Jacob foi tão sincera que “sobreveio o imprevisto”:

“Tomado de assombro, verifiquei que branda luz de um roxo carregado brilhava em torno de mim”.

Ao princípio pensou tratar-se de um espírito benfeitor que estaria junto dele. Intrigado, “refugiou-se, de novo, na prece, em silêncio”. Foi então que visualizou Bittencourt Sampaio.

"Jacob" – disse ele (...) não te admires da claridade que te rodeia.

Ela pertence a ti mesmo. Nasce das tuas energias internas, orientadas agora para a Bondade Suprema.

A concentração de amor verdadeiro produz bendita claridade na alma”.

E continuou:

“Ama sem paixão, espera sem angústia, trabalha sem expectativa de recompensa, serve a todos sem perguntar, aprende as lições da vida sem revolta, humilha-te sem ruído ante os desígnio superiores, renuncia aos teus próprios desejos, sem lágrimas tempestuosas, e a vontade justa e compassiva do Pai iluminar-te-á constantemente o coração fraterno e o caminho redentor!”

Mário

6/11/07

Leia aqui os artigos completos sobre o "Irmão Jacob": Parte I

Parte II:

Parte III:

Parte IV:


2 comentários:

  1. É um relato tocante... faz-nos refletir sobre a nossa conduta e relembra-nos do poder incalculável que tem aquela prece sincera feita das mais nobres fibras de sentimento!
    Muito obrigado pela reflexão!
    Paz e Luz

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  2. Raul:
    Fico sempre feliz de contribuir para que possamos reflectir em conjunto na nossa conduta tão cheia de falhas diárias.

    Já Jesus o repete desde há 2000 anos:

    “Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim.”

    Operaríamos maravilhas nas nossas vidas se lhe compreendêssemos o aviso e, sobretudo, se o colocássemos em prática, não é?

    Muita paz

    Joana

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