O Cura D'Ars
Numa das viagens que realizei a França em família, passei pela pequena vila de Ars Sur Formands e entrámos na basílica para conhecê-la.
Admirávamos a sua beleza, passeando-nos lentamente, quando dei por falta do meu marido. Ao olhar em redor, vi-o junto a uma imagem, de cabeça baixa e, ao aproximar-me, reparei que se encontrava emocionado. Um pouco admirada, pois o culto das imagens não faz parte dos nossos costumes, deixei-o sozinho, não sem antes sentir que daquele pequeno nicho emanava uma energia que arrepiava pela calma e pela paz que transmitia.
Só um pouco mais tarde fiquei a saber que se tratava da imagem do Cura D’Ars, canonizado pela Igreja e que nos deixou uma mensagem belíssima no “Evangelho Segundo o Espiritismo”. Curioso é que o meu marido só o soube, ao sair do estado de emoção em que se encontrava (como sensitivo que é), quando leu a inscrição, junto da imagem.
Mais uma vez reflectimos que não é o facto de se servir uma causa específica, pertencer a uma religião ou outra que faz o Homem, mas as suas qualidades morais de amor e dedicação ao semelhante, seguindo o exemplo do Cristo.
Porque vos falo nisto? Porque me lembrei que o Cura D’Ars desencarnou no dia 4 de Agosto de 1859 e, como esse acontecimento que vivi há uns anos, me marcou fortemente, não podia deixar de o recordar.
João Maria Vianney, nasceu numa família numerosa (Foi o quarto filho em 7), em 8 de maio de 1786 em Dardilly, cerca de Lyon.
Trabalhava no campo e começou a frequentar a escola já na adolescência.
João Maria Vianney, nasceu numa família numerosa (Foi o quarto filho em 7), em 8 de maio de 1786 em Dardilly, cerca de Lyon.
Trabalhava no campo e começou a frequentar a escola já na adolescência.
À medida que crescia, aumentava nele o desejo de se tornar sacerdote. Todavia, precisava de aprender latim, já que naquela época todos os estudos para o sacerdócio eram realizados naquela língua, tal como as celebrações.
Foi considerado homem rude e ignorante pelos superiores que nem o queriam ordenar.
Foi enviado para uma paróquia distante, com poucos fiéis e poucas responsabilidades: em Ars. Uma inscrição num pequeno monumento conta a história de um encontro que teve com um menino, habitante da aldeia, quando lhe solicitou informações sobre o caminho a seguir: "Tu me mostraste o caminho de Ars: eu te mostrarei o caminho do céu."
E, de facto, este sacerdote que tardia e dificilmente aprendera a ler e escrever, mas que transportava Deus e o próximo no seu coração, transformou a sua pequena e apagada paróquia num local de romaria, onde se deslocavam milhares de pessoas, incluindo outros seus superiores, para se confessarem e lhe ouvirem os conselhos.Vivia modestamente, apenas dormindo pouquíssimas horas e alimentando-se o suficiente dos pratos que ele mesmo confeccionava: batatas, pão escuro, água e pouco mais.
Se lhe entregavam algo mais substancial, ele distribuía pelos seus pobres paroquianos, a quem tanto amava e com quem sempre se preocupou, solicitando dinheiro à sua família e a todos os que o podiam auxiliar, convencendo-os pela sua abnegação e pelo seu exemplo.
Vivendo em extrema pobreza e dormindo pouco, afim de atender a todos os que o procuravam, sem nunca deixar de trabalhar e de se dedicar à dor alheia, vivendo-a e sentindo-a como se fosse a sua própria, a sua saúde foi-se deteriorando.
Conta-se que dias antes de desencarnar, foi encontrado a chorar. Ao perguntarem-lhe o motivo porque chorava, o velho cura respondeu: "Choro pensando na grande bondade de Nosso Senhor em vir visitar-nos nos últimos momentos."
O Cura D’Ars deixou-nos o testemunho da sua fé no poder e na sabedoria divinas, da sua compreensão sobre a necessidade das provações vividas na terra e do seu alcance maior para o progresso do espírito, quando aceites com confiança e resignação, na mensagem que aqui deixo para reflexão de todos:
Bem-aventurados os que têm fechados os olhos (1)
20. Meus bons amigos, para que me chamastes? Terá sido para que eu imponha as mãos sobre a pobre sofredora que está aqui e a cure? Ah! que sofrimento, bom Deus! Ela perdeu a vista e as trevas a envolveram. Pobre filha! Que ore e espere. Não sei fazer milagres, eu, sem que Deus o queira. Todas as curas que tenho podido obter e que vos foram assinaladas não as atribuais senão àquele que é o Pai de todos nós. Nas vossas aflições, volvei sempre para o céu o olhar e dizei do fundo do coração: "Meu Pai, cura-me, mas faze que minha alma enferma se cure antes que o meu corpo; que a minha carne seja castigada, se necessário, para que minha alma se eleve ao teu seio, com a brancura que possuía quando a criaste." Após essa prece, meus amigos, que o bom Deus ouvirá sempre, dadas vos serão a força e a coragem e, quiçá, também a cura que apenas timidamente pedistes, em recompensa da vossa abnegação.
Contudo, uma vez que aqui me acho, numa assembléia onde principalmente se trata de estudos, dir-vos-ei que os que são privados da vista deveriam considerar-se os bemaventurados da expiação. Lembrai-vos de que o Cristo disse convir que arrancásseis o vosso olho se fosse mau, e que mais valeria lançá-lo ao fogo, do que deixar se tornasse causa da vossa condenação. Ah! quantos há no mundo que um dia, nas trevas, maldirão o terem visto a luz! Oh! sim, como são felizes os que, por expiação, vêm a ser atingidos na vista! Os olhos não lhes serão causa de escândalo e de queda; podem viver inteiramente da vida das almas; podem ver mais do que vós que tendes límpida a visão!... Quando Deus me permite descerrar as pálpebras a algum desses pobres sofredores e lhes restituir a luz, digo a mim mesmo: Alma querida, por que não conheces todas as delicias do Espírito que vive de contemplação e de amor? Não pedirias, então, que se te concedesse ver imagens menos puras e menos suaves, do que as que te é dado entrever na tua cegueira!
Oh! bem-aventurado o cego que quer viver com Deus. Mais ditoso do que vós que aqui estais, ele sente a felicidade, toca-a, vê as almas e pode alçar-se com elas às esferas espirituais que nem mesmo os predestinados da Terra logram divisar. Abertos, os olhos estão sempre prontos a causar a falência da alma; fechados, estão prontos sempre, ao contrário, a fazê-la subir para Deus. Crede-me, bons e caros amigos, a cegueira dos olhos é, muitas vezes, a verdadeira luz do coração, ao passo que a vista é, com freqüência, o anjo tenebroso que conduz à morte.
Agora, algumas palavras dirigidas a ti, minha pobre sofredora. Espera e tem ânimo!
Se eu te dissesse: Minha filha, teus olhos vão abrir-se, quão jubilosa te sentirias! Mas, quem sabe se esse júbilo não ocasionaria a tua perda! Confia no bom Deus, que fez a ventura e permite a tristeza. Farei tudo o que me for consentido a teu favor; mas, a teu turno, ora e, ainda mais, pensa em tudo quanto acabo de te dizer.
Antes que me vá, recebei todos vós, que aqui vos achais reunidos, a minha bênção.
Vianney, cura d'Ars. (Paris, 1863.)
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(1) Esta comunicação foi dada com relação a uma pessoa cega, a cujo favor se evocara o Espírito de J. B.Vianney, cura d’Ars.
O Evangelho Segundo o Espiritismo” CAPÍTULO VIII - OS QUE TÊM PURO O CORAÇÃO, págs 157/58, Tradução de GUILLON RIBEIRO
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(1) Esta comunicação foi dada com relação a uma pessoa cega, a cujo favor se evocara o Espírito de J. B.Vianney, cura d’Ars.
O Evangelho Segundo o Espiritismo” CAPÍTULO VIII - OS QUE TÊM PURO O CORAÇÃO, págs 157/58, Tradução de GUILLON RIBEIRO
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