sexta-feira, 13 de abril de 2007

Histórias do Além - Irmão X

Cada acto que praticarmos com amor ficará para sempre registado no livro do
Universo e a nós sempre retornará.


História de um pão
(A prática da Caridade e os seus reflexos na bênção da Reencarnação)

Quando Barsabás, o tirano, demandou o reino da morte, buscou debalde reintegrar-se no grande palácio que lhe servira de residência.
A viúva, alegando infinita mágoa, desfizera-se da moradia, vendendo-lhe os adornos.
Viu ele, então, baixelas e candelabros, telas e jarrões, tapetes e perfumes, jóias e relíquias, sob o martelo do leiloeiro, enquanto os filhos querelavam no tribunal, disputando a melhor parte da herança.
Ninguém lhe lembrava o nome, desde que não fosse para reclamar o ouro e a prata que doara a mordomos distintos.
E porque na memória de semelhantes amigos ele não passava, agora, de sombra, tentou o interesse afectivo de companheiros outros da infância…
Todavia, entre estes encontrou simplesmente a recordação dos próprios actos de malquerença e de usura.
Barsabás entregou-se às lágrimas de tal modo, que a sombra lhe embargou, por fim, a visão arrojando-o nas trevas…
Vagueou por muito tempo no nevoeiro, entre vozes acusadoras, até que um dia aprendeu a pedir na oração, e, como se a rogativa lhe servisse de bússola, embora caminhasse às escuras, eis que, de súbito, se lhe extingue a cegueira e ele vê, diante de seus passos, um santuário sublime, faiscante de luzes.
Milhões de estrelas e pétalas fulgurantes povoavam-no em todas as direcções.
Barsabás, sem perceber, alcançara a Casa das Preces de Louvor, nas faixas inferiores do firmamento.
Não obstante deslumbrado, chorou, impulsivo, ante o ministro espiritual que velava no pórtico. Após ouvi-lo, generoso, o funcionário angélico falou sereno:
- Barsabás, cada fragmento luminoso que contemplas é uma prece de gratidão que subiu da Terra.
- Ai de mim - soluçou o desventurado – eu jamais fiz o bem.
- Em verdade - prosseguiu o informante -, trazes contigo, em grandes sinais, o pranto e o sangue dos doentes e das viúvas, dos velhinhos e órfãos indefesos que despojaste, nos teus dias de invigilância e de crueldade; entretanto. tens aqui, em teu crédito, uma oração de louvor...
E apontou-lhe acanhada estrela, que brilhava à feição de pequenino disco solar.
- Há trinta e dois anos -disse, ainda, o instrutor -,deste um pão a uma criança e essa criança te agradeceu, em prece ao Senhor da Vida.
Chorando de alegria e consultando velhas lembranças, Barsabás perguntou:
- Jonakim, o enjeitado?
- Sim, ele mesmo -confirmou o missionário divino. -Segue a claridade do pão que deste, um dia, por amor, e livrar-te-ás, em definitivo, do sofrimento nas trevas.
E Barsabás acompanhou o ténue raio do ténue fulgor que se desprendia daquela gota estelar, mas, em vez de elevar-se às Alturas, encontrou-se numa carpintaria humilde da própria Terra.
Um homem calejado aí reflectia, manobrando a enxó em pesado lenho...
Era Jonakim, aos quarenta de idade.
Como se estivessem os dois identificados no doce fio de luz, Barsabás abraçou-se a ele, qual viajante abatido, de volta ao calor do lar...

Decorrido um ano, Jonakim, o carpinteiro, ostentava, sorridente, nos braços, mais um filhinho, cujos louros cabelos emolduravam belos olhos azuis.
Com a bênção de um pão dado a um menino triste, por espírito de amor puro, conquistara Barsabás, nas Leis Eternas, o prémio de renascer para redimir-se.
Irmão X (pseudónimo de Humberto de Campos)
in "Luz no Lar" psicografado por Francisco Cândido Xavier

Pequenas Notas Biográficas: Humberto de Campos

Humberto de Campos (1886-1934), jornalista, político e cronista brasileiro. Sob o pseudônimo de Conselheiro XX, ganha fama devido ao seu estilo jucoso e crítico dirigido a personalidades importantes da época, exigindo maior liberdade de expressão e maior abordagem no âmbito dos problemas humanos e sociais.
Quando adoece, muda o seu estilo mordaz e, abandonado por parentes e amigos influentes na sociedade brasileira, impregna as suas crónicas de uma grande compreensão pelos que sofrem e parte em defesa dos mais pobres.
Morre cego, aos 48 anos de idade.
Regressa pouco tempo depois, através da psicografia de Francisco Candido Xavier.
Críticos literários famosos à época, examinam minuciosamente a escrita de Humberto, emanada do Mundo Espiritual e concluem pela autenticidade do seu estilo. A família aproveita para reclamar direitos autorais do morto!!!
A Federação Espírita Brasileira ganha a causa e Humberto de Campos, constrangido com toda a polémica levantada, interrompe a sua escrita por muito tempo. Quando volta a comunicar-se do Além, fá-lo sob o pseudónimo de Irmão X.
Obras suas psicografadas pelo médium Chico Xavier: "Crônicas de Além-Túmulo", "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", "Boa Nova", "Novas Mensagens", "Luz Acima", "Contos e Apólogos" entre outros.

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