Senhora de avançada idade, Albina sofria do coração e era assistida pelas duas filhas no apartamento do elegante bairro em que vivia. Há muitos anos ligada ao culto presbiteriano, era dedicada na fé que cultivava e possuía grandes admiradores no mundo espiritual pelos trabalhos realizados na defesa do Evangelho.
“Mais uma vez, maravilhou-me a grandeza da fraternidade legítima, imperante na vida superior. Não se buscava o rótulo das criaturas, não se cogitava, em sentido particularista, de seus títulos religiosos ou sociais. Procurava-se o coração fiel a Deus, ministrava-se amparo reconfortador, sem qualquer preocupação exclusivista.”
O Assistente Jerônimo aproximou-se dela, tocou-lhe a fronte com a destra e Albina, de semblante iluminado e feliz ao contacto daquela mão bondosa e acariciante, exclamou para uma das companheiras que a assistiam:
– Eunice, dá-me a Bíblia. Desejo meditar um pouco.”
(…)
“Dispunha-se o Assistente a conversar conosco, evidenciando as formosas qualidades da enferma. quando alguém de nosso plano assomou à porta de entrada. Era dedicada amiga que vinha velar à cabeceira. Cumprimentou-nos, bondosa, com encantadora simplicidade.” págs. 180/181
Junto de Cavalcante
Homem de fé, Cavalcante, como padre da Igreja católica, tinha dedicado toda a sua vida ao serviço do próximo, não olhando a sacrifícios para acudir a quem dele necessitasse. Encontrava-se recolhido numa cama dum hospital gratuito, abandonado pela família que não compreendia o seu desapego às coisas materiais da existência. Todavia, não fora esquecido pela espiritualidade que, como reconhecimento por toda uma vida de dedicação, lhe enviou a equipa de André Luiz. Quando esta o foi visitar encontrou junto do leito um espírito, seu amigo, que o assistia.
“Decorridos alguns segundos, estávamos à frente dum cavalheiro maduro, rosto profusamente enrugado e cabelos brancos, a cuja cabeceira vigiava excelente companheiro espiritual.
Apresentou-nos Jerônimo a esse último. Tratava-se do irmão Bonifácio, que ajudava o doente.”, pág. 183
Toavia, apesar das excelentes qualidades morais de que era detentor, Cavalcante não se tinha preparado convenientemente para o momento da partida, já que para além de desconhecer todo o processo que envolve a desencarnação, encontrava-se demasiado ligado às preocupações terrenas e familiares que o tinham absorvido até ao momento, manifestando grande intranquilidade.
“É virtuoso católico-romano, espírito abnegado e valoroso nos serviços do bem ao próximo. Veio de nossa colônia, há mais de sessenta anos, e possui grande círculo de amigos pelos seus dotes morais. Sua existência, cheia de belos sacrifícios, fala ao coração. (…)
Notei, todavia, que Cavalcante era absolutamente alheio à nossa influenciação. Nada percebia de nossa presença ali, verificando que ele, apesar das elevadas qualidades morais que lhe exornavam o caráter, não possuía bastante educação religiosa para o intercâmbio desejável. (…)
O pobrezinho não se preparou, convenientemente, para libertar-se do jugo da carne e sofre muito pelos exageros da sensibilidade. E muito embora o abandono a que foi votado, tem o pensamento afetuoso em excessiva ligação com aqueles que ama. Semelhante situação dificulta-nos sobremaneira os esforços.
– Sim – concordou Jerônimo –, entendemos a luta. A deficiência de educação da fé, ainda mesmo nos caracteres mais admiráveis, origina deploráveis desequilíbrios da alma, em circunstâncias como esta. Conservar-nos-emos, porém, a postos, como retribuição ao devotado amigo pelos obséquios inúmeros que dele recebemos.”, págs 183/4
Na Instituição dirigida por Adelaide
Adelaide dirigia há muitos anos uma instituição “espiritista-cristã” que albergava numerosas crianças em nome de Jesus.
Quando a equipa de André Luiz chegou ao local foi recebida por Bezerra de Menezes que assistia Adelaide e que assim se lhes dirigiu:
“Felizmente, porém, nossa querida Adelaide não dará trabalho. O ministério mediúnico, o serviço incessante em benefício dos enfermos, o amparo materno aos órfãos nesta casa de paz, aliados aos profundos desgostos e duras pedradas que constituem abençoado ônus das missões do bem, prepararam-lhe a alma para esta hora...
– Adelaide sempre foi leal discípula do Mestre dos Mestres.
Apesar das dificuldades, dos espinhos e aflições, perseverou até ao fim.
A digna senhora, após olhar demoradamente delicados ramos de rosas que lhe ornavam o quarto, entrou em oração. De sua mente equilibrada, emanavam raios brilhantes. Não nos enxergou ao seu lado, exceção do devotado Bezerra de Menezes, a quem se unia por sublimes cadeias do coração.” Pág 185