segunda-feira, 25 de junho de 2007

A Comunicação através do sonho

Diálogo em Casa

Era como se tudo houvesse desembocado num grande caos - reflectia o Dr. Luciano de Sá, ante o terrível impacto so­frido com a inesperada morte do filho.
Germano servira o Exército havia pouco tempo. Filho úni­co, sempre teve nos pais dispensadores pródigos que tudo fa­ziam para ver o jovem crescer feliz.
Nos últimos tempos, porém, Germano mostrava-se inex­plicavelmente rebelde e avesso ao ambiente doméstico.
Um tanto saturado de prazeres que sempre lhe foram fá­ceis, o moço, inquieto, parecia tomar caminhos diferentes.
Isso é fase - dizia a mãe, D. Albertina - com o tempo tudo passa. É o período da emancipação que todos devemos res­peitar.
Filho e genitores, apesar de residirem no mesmo lar, vi­viam em situações diferentes e até desassociadas. Os laços de aproximação existentes eram, em verdade, muito fracos.

Na medida em que passavam os meses, o jovem torna­va-se mais revoltado, até que seus pais vieram a receber a vi­sita de dois policiais que os informaram sobre o acidente.
Germano, passeando de moto, acabara de ser atropelado por um caminhão, vindo a morrer minutos depois.
Agora a casa estava vazia. E os dois corações ali exis­tentes, saturados de angústia.
Trinta dias depois, Dr. Luciano, que acreditava na eficácia da prece, rogava aos Céus, antes de dormir, a bênção de um consolo maior.
Dormiu serenamente e, momentos após haver conciliado o sono, passou a ter sonho muito significativo: um amigo não identificado, o conduziu a um hospital e lá surpreendeu-se com a presença do filho querido. Estava em delicado tratamento e já gozava de sensível recuperação. Os dois não puderam conversar, mas trocaram enigmático e profundo olhar.
E a experiência prosseguia...
Dr. Luciano, meio atónito, naquele instante, foi convidado a ouvir algumas palavras de abnegado Mentor. E, sentando-se, ouviu o seguinte:
- Seu filho não morreu. Teria morrido se continuasse na Terra. Dessa forma, sua consciência teria sido petrificada no erro. Portanto, ele foi salvo. Salvo pela bênção da morte. Não diga jamais que a sua casa está vazia, porque vazia ela sempre esteve desde que não ofereceu lugar ao coração de Germano. Todo ambiente humano sem diálogo é hostil. Seu filho estava tentando escapar a essa situação. Começou a degenerar-se, revivendo quedas de outras vidas, e quando sentimos que es­tava mergulhando a alma no submundo do tóxico, recorremos à misericórdia de Deus e o trouxemos para cá. Foi uma con­cessão feita com base em méritos que o nosso Germano traz de outras existências. Seria muito triste o seu caminho pela vi­da, não fosse essa providência. Portanto, meu irmão, dê gra­ças a Deus por tudo, assuma o compromisso de aprender a ser pai e não se esqueça que o diálogo afectivo é base de harmonia para o lar.

Assim que o Dr. Luciano acabava de ouvir a palavra enér­gica e esclarecedora daquele que continuava sendo o anjo guardião de seu filho, sentiu o sonho se desfazer e, em segui­da, despertou no corpo, trémulo e pensativo...
In Páginas do Quotidiano Hilário Silva

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